Reino Unido manda navio de guerra para a Guiana, Venezuela diz que é provocação

26 de dezembro 2023 - 10:01

Depois do referendo em que 95% dos votos expressos se tinham manifestado a favor da anexação de Essequibo pela Venezuela, os dois países tinham reunido e emitido um compromisso de que não resolveriam o diferendo territorial pela força. A intervenção do ex-colonizador voltou a acirrar ânimos.

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HMS Trent. Foto de Shaun Roster/Wikimedia Commons.
HMS Trent. Foto de Shaun Roster/Wikimedia Commons.

Num comunicado, o Ministério da Defesa do Reino Unido informou que “o HMS Trent viajará este mês para a Guiana, nosso aliado regional e parceiro da Commonwealth, para uma série de compromissos na região”. Esta deslocação de um navio militar britânico para a sua ex-colónia acontece pouco depois da Venezuela ter feito um referendo, no início do mês, sobre a anexação de Essequibo, um território disputado entre os dois países, no qual o sim ganhou por perto de 95%.

O HMS Trent está habitualmente baseado no Mediterrâneo, na colónia britânica de Gibraltar, e estava presentemente em Barbados, na zona do Caribe, no âmbito de uma operação de combate ao tráfico de drogas. Segundo a BBC, participará agora de exercícios militares na Guiana junto com aliados que não foram especificados.

Essequibo, uma história de tempos coloniais

Essequibo tem 160 quilómetros quadrados o que representa dois terços do total da área da Guiana mas nele vivem apenas perto de 125 mil pessoas, um quinto da sua população. É um território rico em petróleo.

Do lado venezuelano, o argumento para reivindicar a soberania sobre a região baseia-se nas fronteiras do Império Espanhol em 1777. A Guiana domina a região desde a era colonial inglesa que a anexou por interesse nos depósitos de ouro aí encontrados. Em 1899, um “tribunal arbitral” reunido em Paris decidiu que Essequibo não era parte da Venezuela, o que não é reconhecido por este país. Em 1966, houve um acordo inicial em Genebra no sentido de procurar uma solução mas as negociações não chegaram a nenhuma decisão final aceite pelas partes. O caso foi depois remetido para o Tribunal Internacional de Justiça de Haia cuja jurisdição para tomar uma decisão neste âmbito não é reconhecida por Caracas. Dois dias antes do referendo na Venezuela, este órgão tinha emitido um parecer no qual determinava que aquele país não deveria interferir no estatuto do território.

A 14/15 de dezembro houve uma cimeira entre Irfaan Ali, presidente da Guiana, e Nicolás Maduro, presidente da Venezuela. Nela se prometeu que não se iria recorrer ao uso da força para resolver o diferendo.

Provocação, diz-se na Venezuela

Entretanto, vários governantes venezuelanos reagiram à notícia do envio de um navio de guerra britânico para a região. Vladimir Padrino López, ministro da Defesa, questionou no X: “e o compromisso de boa vizinhança e de convivência pacífica? E o acordo de não ameaçar nem usar a força uns contra os outros em circunstância alguma?” Para ele, este tipo de ações são “provocações que ameaçam a paz e a estabilidade das Caraíbas e da nossa América”.

Também Yván Gil usou a mesma rede social para defender que “o ex-império, invasor e esclavagista, que ocupou ilegalmente o território da Guiana Essequiba e atuou de forma maliciosa e desonesta contra os interesses da Venezuela, insiste em intervir numa disputa territorial que ele próprio gerou”.