Israel

Região de Aveiro entregou transportes ao grupo que gere o maior campo de treinos militares israelita

23 de outubro 2024 - 15:51

A empresa concessionária das linhas de autocarro que servem os 11 municípios da região é detida em 50% pelo maior fundo israelita de infraestruturas, que participou no consórcio que construiu e gere agora o maior campo de treinos militares, batizado com o nome de Ariel Sharon.

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Autocarro da Busway com ruínas de Gaza em fundo
Fotomontagem de autocarro da Busway com ruínas de Gaza em fundo

Em fevereiro do ano passado, a Comunidade Intermunicipal da Região de Aveiro assinou o contrato de concessão dos transportes públicos rodoviários que liga os seus onze concelhos por um prazo de cinco anos, prorrogáveis por mais dois anos. Houve dois concorrentes, mas a Auto Viação Aveirense perdeu o concurso para a Nativ Express Public Transportation e a empresa israelita, que em Portugal opera com a marca Busway, ficou com a concessão avaliada em cerca de 6,5 milhões de euros.

Esta transportadora pertencia na totalidade ao grupo Afifi, uma empresa quase centenária detida por uma família árabe que começou o negócio dos transportes na Nazaré, na Galileia, expandindo-o ao longo das décadas para os setores do turismo, hotelaria e imobiliário, entre outros. Mas dois anos antes da concessão aveirense ter iniciado o processo de internacionalização do grupo Afifi em Portugal, um investidor de peso tomou conta de 50% do capital da Nativ Express. Trata-se do Noy Fund, o maior fundo israelita do setor de infraestruturas e energia, que ultimamente tem apostado em força no negócio da energia solar no país vizinho.

Dentro de Israel, o Noy Fund, criado em 2011, tem estado associado aos maiores projetos de infraestruturas do país, da construção de estradas aos projetos de energia renovável, mas também do gás. Um dos maiores projetos, concluído em 2016, foi o da parceria público-privada com as forças armadas israelitas para a construção do maior campo de treinos militares na região do Negev, para onde se deslocaram várias bases de treino até então existentes no território israelita. São 250 hectares de terreno com 250 mil metros quadrados de área construída com capacidade para acolher e formar 11 mil soldados, muitos dos quais viriam a participar nos massacres em Gaza e no Líbano. O campo foi batizado com o nome do antigo primeiro-ministro Ariel Sharon, também conhecido como o “carniceiro de Beirute” pelo seu papel no comando da invasão do Líbano em 1982.

Outro dos projetos do Noy Fund é a Negev Energy, uma central solar em parceria com o grupo Shikun & Binui, uma empresa também envolvida na construção nos colonatos ilegais e no muro e barreiras que cercam a Faixa de Gaza. Segundo o portal Who Profits, este grupo trabalha em colaboração estreita com os militares israelitas, tendo obtido em 2022 a concessão da obra de uma base militar para juntar quatro bases já existentes, duplicando o número de recrutamentos em cada fase. E será a própria empresa a tratar do recrutamento através de um sistema informático que desenvolveu. Além da construção, uma subsidiária do grupo irá assegurar a gestão da base por 20 anos. O Shikun & Binui foi também escolhido para construir outras bases militares, como o das unidades tecnológicas ou a dos serviços de informações, com capacidade para 13 mil militares, um projeto inicialmente previsto para estar pronto em 2028.

À frente do Noy Fund está Pinchas (Pini) Cohen, que também lidera a America Israel Investments, um dos grandes grupos de construção e imobiliário e com projetos na expansão ilegal dos colonatos israelitas, através de parcerias com empresas como a Danya Cebus, Kardan, Aviv Group, Phoenix Group, entre outras. Os acionistas da America Israel Investments incluem o grupo segurador Migdal, envolvido no financiamento de um mega projeto eólico nos Montes Golã para beneficiar vários colonatos israelitas ou na expansão do metro ligeiro de Jerusalém para ligar os colonatos nas áreas ocupadas no Leste da cidade, além de deter participações no capital de várias empresas que lucram com a ocupação ilegal, seja através da construção, exploração de recursos energéticos, fornecimento de serviços aos colonatos ou aos militares e forças de segurança do ocupante. Outro acionista é o grupo financeiro Mercantile, cujos bancos foram incluídos na lista das Nações Unidas das entidades que fazem negócios nos territórios palestinianos ocupados na Cisjordânia e em Jerusalém.

Joana Mortágua
Joana Mortágua

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A influência de Pini Cohen vai muito para além dos negócios e estende-se à elite política e militar do país. Ele foi o presidente do conselho de curadores do Instituto de Estudos da Segurança Nacional (INSS), considerando o principal think-tank da política de segurança do estado sionista e que é desde maio liderado pelo ex-chefe dos serviços de informações militares Tamir Hayman.