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Reclusa despejada à beira de regressar a casa motiva ações de solidariedade

Moradora do Bairro do Lagarteiro, no Porto, cumpria pena de prisão durante a qual se dedicou ao teatro. À beira de ser libertada e desejosa de reconstruir a vida, foi despejada de casa pela câmara do Porto. Situação motivou cartas de protesto e manifestações em solidariedade.
Bairro do Lagarteiro, foto domussocial.pt
Bairro do Lagarteiro, foto domussocial.pt

Paula Gonçalves, moradora do bairro do Lagarteiro no Porto, cumpre desde 2012 pena de prisão em Santa Cruz do Bispo por tráfico de droga. Enquanto reclusa, continuou a pagar renda e contas de sua casa, que utilizava durante as saídas precárias e nos encontros com os seus dois filhos. Dedicou-se também ao teatro, participando ao lado de outros reclusos e de atores profissionais na peça "O Filho Pródigo", de Luísa Pinto, que estreou em maio de 2017.

A pouco tempo do fim da pena e o regresso à liberdade, no entanto, Paula Gonçalves sofreu um pesado revés: o vereador da habitação da câmara assinou uma ordem de despejo no mês passado, na sequência da qual os serviços camarários entraram na sua casa, levaram os seus pertences e trocaram a fechadura.

A situação está a gerar revolta. Mais de 200 pessoas assinaram uma petição apelando a Rui Moreira para rever a decisão. Entre os signatários encontram-se personalidades conhecidas do teatro (São José Lapa), música (Amélia Muge, José Mário Branco), da academia (Jorge Bateira, Manuel Loff), da política (Helena Roseta, Isabel Moreira). Pelo Bloco assinam também os deputados José Soeiro, José Manuel Pureza e Maria Manuel Rola.

Reconhecendo que o "regulamento municipal permite que o Vereador tome esta decisão", a carta contrapõe que o mesmo também lhe dá o poder de "de tomar a decisão contrária" para "a Paula refaça o seu projeto de vida". E acrescenta: "na verdade, a aplicação cega do regulamento gera uma grande desumanidade. Sem emprego e sem casa, com dois filhos menores, numa cidade em que as rendas dispararam, esta decisão municipal é uma dura machadada".

Afirma ainda a carta: "A Paula, é certo, cometeu um crime. Mas já pagou por ele. Cumpriu a pena a que a Justiça a condenou. Por que haveria de ter uma outra pena para além dessa – a perda da sua casa, que assim ficou e permanece vazia – , em vez de poder, justamente agora que está de regresso, voltar a sua casa e reconstruir a sua vida?".

Paula Gonçalves sai da prisão este sábado de manhã. Às 10h haverá uma manifestação de solidariedade no bairro do Lagarteiro, organizada pelos moradores.

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