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“Radical é não ter uma casa para viver”

Catarina Taborda, do coletivo Covilhã a Marchar, defende que não é radical sair à rua para exigir melhores contratos de arrendamento e tetos máximos para as rendas, radical é não ter acesso a um direito constitucional. Concentração do próximo dia 30 tem início às 15h, em frente à Câmara Municipal da Covilhã.
Catarina Taborda na 2ª Marcha pelos Direitos LGBTQIAP+ da Covilhã. Foto de Covilhã a Marchar.

Em declarações ao Esquerda.net, Catarina Taborda explicou que os meios de comunicação dão especial enfoque ao problema de habitação em Lisboa e Porto, mas a verdade é que, “ainda que os preços de arrendamento na Covilhã não estejam perto dos valores que estão a ser praticados em Lisboa e no Porto, os rendimentos também não são os mesmos”.

“Em 2019, um trabalhador por conta de outrem recebia, no concelho da Covilhã, cerca de 220 euros menos do que a média média nacional e menos 681 euros do que a média do concelho de Lisboa”, assinalou.

De acordo com a ativista, o problema é transversal, afetando várias faixas etárias, e não se restringe aos mais desfavorecidos, já que a classe média está a ser severamente atingida pela crise. No que respeita concretamente aos estudantes, e sendo a Covilhã uma cidade universitária, com a Universidade da Beira Interior, a situação tem-se vindo a agravar fortemente. “Todos os anos chegam novos estudantes, na sua maioria deslocados, que estão à procura de um quarto. O número de quartos disponíveis diminuiu cerca de 64% entre setembro de 2021 e o mesmo mês deste ano. Já o preço médio de um quarto aumentou 13%”, detalhou Catarina Taborda.

O coletivo que a ativista integra, o Covilhã a Marchar, é “composto por estudantes que estão a começar agora a sua licenciatura e à procura de um quarto para poder viver, mas também estudantes que estão agora a terminar os seus estudos e estão a pensar no início da sua carreira, em ter um espaço próprio e começar uma família”, sendo que “nenhuma das alternativas é viável neste momento”.

Catarina Taborda apontou que, com a atual crise da habitação, “não é possível fazer planos de vida” e enfatizou que este é o momento para “dar força a uma luta que é nacional”.

A ativista referiu que “quem cresce no interior não está muito habituado a sentir que está perto da política, que se concentra mais em Lisboa e Porto”, sentindo-se “menos representados”.

Neste contexto, “ainda se torna mais importante” aderir aos protestos do próximo dia 30 de setembro, até porque “a política não se faz só no Parlamento, faz-se na rua”.

Catarina Taborda considera que o Governo não está a fazer o que devia para assegurar o direito à habitação: “assistimos à inação” do executivo socialista que aplica “pensos rápidos que não fazem frente ao problema real, ao problema de base”, avançou.

A ativista não considera “radical sair à rua para exigir melhores contratos e tetos máximos para as rendas”. “Radical é não ter uma casa para viver, que é um direito constitucional”, continuou.

Na Covilhã, a manifestação decorrerá no mesmo sítio em que se celebrou o 25 de Abril e o 1º de Maio, em frente a Câmara Municipal da Covilhã. “Estamos a lutar pelos valores de Abril”, rematou Catarina Taborda.

Habitação “tem sido tratada como qualquer outro ativo financeiro”

No manifesto convocatório da manifestação o Covilhã a Marchar afirma que “as políticas liberais, de construção desmesurada e de liberalização do licenciamento, não funcionam”.

“Não há garantia de que as casas construídas não entrem nas lógicas especulativas já existentes, juntando-se a um elevado número de casas já fechadas e vazias, ou que não sejam absorvidas automaticamente pelo setor do luxo. Para não falar das consequências ambientais e climáticas da construção infinita”, lê-se na missiva.

O coletivo assinala que a habitação “tem sido tratada como qualquer outro ativo financeiro” e que “a especulação imobiliária leva a que um número enorme de casas saia do mercado, provocando diminuição da oferta para arrendamento, aumentando ainda mais as rendas”.

“Uma simples pesquisa na Internet revela uma realidade óbvia – as rendas são obscenas. No mês de agosto, e em comparação com o mês anterior, o distrito de Castelo Branco foi o segundo do país com maior aumento no preço do arrendamento, 7,3%. Enquanto isto, a Estratégia Local de Habitação verificou que 14,8% dos alojamentos familiares clássicos do concelho estão vagos, sem ninguém a habitar”, refere o Covilhã a Marchar.

O coletivo considera que “as políticas públicas não devem insistir em decisões racistas, como a construção de ghettos afastados dos centros das cidades, que isolam e reproduzem desigualdades sociais, limitando oportunidades e projetos de vida”. E alerta que o aumento das rendas coloca em causa a segurança de vítimas de violência doméstica e de género, agravando problemas de saúde mental”.

“Casais divorciados continuam a viver juntos após a separação por não conseguirem pagar duas rendas. Pela mesma razão, pessoas LGBTQIAP+ são frequentemente forçadas a manter-se em ambientes nos quais não podem expressar livremente a sua identidade”, escreve o Covilhã a Marchar.

Entre as suas reivindicações constam tetos máximos para as rendas; limites no aumento das prestações de crédito habitação; proibição temporária da venda de imóveis a fundos estrangeiros; contratos de arrendamento longos e estáveis; soluções públicas de arrendamento acessível, social e de emergência; mais residências para estudantes, a preço acessível; ou a construção de habitação cooperativa.

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