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Queima de madeira para energia "verde" ameaça florestas europeias

Com a crise energética e os incentivos à indústria dos pellets, o corte de árvores vai intensificar-se. Na Polónia, o governo já considera distribuir máscaras anti-fumo à população no inverno por causa da queima indiscriminada de materiais para aquecimento das casas.
Foto Andrew_Writer/Flickr

O Parlamento Europeu prepara-se para votar na proxima semana uma proposta para eliminar os subsídios e proibir a queima de árvores por parte dos países para cumprirem os seus objetivos ambientais. Até agora, ao considerar a energia obtida pela queima de madeira como "verde", a União Europeia tornou-se a região que mais consome pellets no mundo e ao mesmo tempo vê as suas florestas ancestrais a serem consumidas pelos madeireiros com esse fim.

O New York Times publicou uma reportagem sobre esta corrida à madeira e o efeito nas florestas em países como a Finlândia, a Estónia ou a Roménia. "As pessoas compram pellets a pensar que estão a fazer uma escolha sustentável, mas na verdade estão a audar à destruição das últimas florestas selvagens na Europa", afirmou David Gehl, da Agência de Investigação Ambiental, um organismo norte-americano que estuda o uso da madeira na Europa. Os próprios organismos europeus não têm informação sobre a origem dos muitos milhões de toneladas de madeira consumida no ano passado, embora se suspeite que o destino foi a queima para aquecimento ou produção de energia.

Numa altura em que o preço da eletricidade e do gás dispara e o inverno se aproxima, muitos países na Europa Central e do Norte fazem pressão junto dos eurodeputados para não acabar com os subsídios a esta indústria, alertando para o impacto negativo na economia ou defendendo que a decisão caiba a cada país.

O impacto ambiental da queima de madeira não é desconhecido e já foi tema de debate em 2018, quando o assunto chegou à mesa dos eurodeputados. Na altura, cerca de 800 cientistas escreveram uma carta aberta a exigir o fim do corte de árvores para produção de energia, alertando para o efeito no aumento das emissões de carbono, que pode ser superior ao da energia criada a partir de combustíveis fósseis. Originalmente, o objetivo dos incentivos era o do aproveitamento dos resíduos florestais, mas o negócio depressa se estendeu ao corte de árvores.

Polónia admite distribuir máscaras anti-fumo

A queima de madeira não é a principal preocupação das autoridades polacas para este inverno. O aumento dos preços do gás e do carvão usado para aquecimento das casas levou Jaroslaw Kaczynski, o líder do partido do governo, o Lei e Justiça, a admitir que para as pessoas se aquecerem "terão de queimar qualquer coisa, exceto obviamente pneus ou coisas semelhantes".

Segundo a Bloomberg, o ministro da Saúde Adam Niedzielski alertou para o problema do smog causado pela queima indiscriminada de material combustível, admitindo a possibilidade de distribuir máscaras anti-fumo à população. À porta das minas, as pessoas passam dias nas filas para comprar carvão na sequência da proibição das importações da Rússia.

Apesar dos avisos de multas pesadas a quem queimar lixo, o autarca de Nowy Sacz deu conta de que houve uma grande queda na quantidade de lixo recolhido desde março, um indicador de que as pessoas estão a armazenar o que podem para o aquecimento nos próximos meses. Os dados da Agência Ambiental Europeia colocam mais de 20 cidades polacas na lista das 50 cidades europeias com o ar mais poluído, num país onde morrem prematuramente mais de 40 mil pessoas por causa da poluição do ar.

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