A Forest Defenders Alliance, uma coligação internacional de associações ambientalistas, publicou esta terça-feira um relatório que mostra que muitas centrais de biomassa da União Europeia, entre elas portuguesas, não cumprem o compromisso de apenas utilizar serradura e outros resíduos florestais ou de origem animal para produzir energia, mas usam mesmo árvores que estão a ser cortadas nas florestas.
O documento, intitulado, “O Futuro a arder. Como a UE Queima Árvores em Nome das Energias Renováveis” apresenta fotografias de mais de 40 centrais de biomassa e fábricas de pellets nas quais se podem ver troncos de madeira em enormes quantidades. Assim, cerca de um quarto das empresas estarão a produzir alegações enganosas a este respeito.
As empresas também procuram obter um estatuto de sustentabilidade que não têm, diz a coligação ambientalista. Segundo “afirmações inequívocas” do Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas, esta forma de produção energética não deve ser presumida como sendo “neutra em carbono” ou benéfica para o clima. Contudo, mais de metade das empresas analisadas no setor, 25, “produz alegações enganosas desta natureza, em contradição direta com a ciência comprovada”. Estas tomadas de posição “muitas vezes” alcançam uma dimensão que “deveria despoletar escrutínio de acordo com as leis de proteção do consumidor da União Europeia”.
Portugal também é citado e a associação ambientalista Zero, que também faz parte da Forest Defenders Alliance, afirma em comunicado que este documento confirma um outro relatório anterior que já identificava a queima de troncos de madeira para esta finalidade. Exige-se do governo que reavalie e reformule os apoios públicos às centrais de biomassa florestal e que impeça a utilização deste tipo de madeira.
Francisco Ferreira, presidente desta associação, conclui que “a Europa tem de compreender que atualmente não consegue satisfazer a procura de biomassa para energia a partir de resíduos. Este relatório mostra como a queima de troncos é uma realidade, e como é importante que a UE deixe de contabilizar a queima insustentável de biomassa florestal para os objetivos de energia renovável”.