Entre 2019 e 2023, houve 2.847 mulheres residentes em Portugal a ir a Espanha realizar uma interrupção voluntária da gravidez por falta de acesso em solo nacional, de acordo com os dados conhecidos. Só em 2023 foram 668 casos.
Segundo os dados das comunidades autónomas de Espanha avançados pelo Expresso, em 2022 (único ano em que há dados completos por regiões), 128 residentes em Portugal dirigiram-se à Galiza, 13 a Catalunha, 63 a Madrid e 30 a Andaluzia para fazer abortos. A região de Estremadura é a que mais casos registou de longe. Foram 399 mulheres que atravessaram a fronteira até Badajoz para ter acesso a um direito que o Estado português não consegue assegurar.
Os registos das Comunidades Autónomas de Andaluzia e Catalunha mostram que os casos mais comuns registados foram de gravidez com 13 e 14 semanas, as últimas em que a interrupção voluntária da gravidez está disponível em Espanha sem necessidade de justificação médica. Em me´dia, dois em cada três casos foram de mulheres com, pelo menos, 11 semanas de gravidez, altura em que o aborto deixa de ser legal em Portugal.
Entrevista
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A falta de acesso ao aborto traduz também desigualdades. Ao Expresso, a obstetra e presidente da Sociedade Europeia de Contraceção e Saúde Reprodutiva Teresa Bombas, explica que “a ida a Espanha tem custos e o aborto também, pelo que será acessível apenas a mulheres que podem suportá-los”.
O preço de um aborto medicamentoso a título privado em Espanha está entre os 300 e 400 euros, enquanto que um aborto cirúrgico, realizado num estádio mais avançado da gravidez, pode custar cerca de dois mil euros.
A deslocação de Portugal para Espanha para fazer uma interrupção voluntária da gravidez é a segunda mais comum na Europa, denunciando os problemas no acesso ao aborto em Portugal. A investigação Exporting Abortion mostra que a rota mais comum é de residentes da Alemanha que se deslocam aos Países Baixos.