As eleições presidenciais na Bielorrúsia foram há uma semana, mas as manifestações contra a reeleição de Alexander Lukashenko continuam. Milhares de pessoas concentraram-se junto à estação de metro de Pushkinskaya, na cidade de Minsk, em homenagem a Alexander Vichor, o manifestante morto durante um protesto no passado dia 10 de agosto, noticia a AFP. Ao mesmo tempo, noutra ponta da cidade, entre 500 e 700 pessoas compareciam no seu funeral.
Lukashenko está no poder desde 1994, indo agora para o seu sexto mandato como presidente da Bielorrúsia. Segundo a Comissão Eleitoral Central bielorrussa, Lukashenko foi reeleito com 80,23% dos votos. E se há muito que a Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa (OSCE) não reconhece como justos os resultados das eleições no país, desta feita até a União Europeia (UE) qualifica o processo como fraudulento.
Sviatlana Tsikhanouskaya, principal candidata da oposição e que, segundo a mesma fonte, terá obtido 10% dos votos, rejeitou os resultados desde o primeiro momento e ter-se-à refugiado na Lituânia na passada semana, apelando à distância a manifestações pacíficas.
Centenas de milhares saem à rua
As manifestações de 16 de agosto terão sido as maiores da história do país independente, com as estimativas mais conservadoras a apontar para cem mil pessoas nas ruas e outras a contarem meio milhão de participantes. Os manifestantes gritavam pela realização de novas eleições, a saída de Lukashenko, pela sua prisão e pela libertação dos presos políticos.
Em reação a tamanha mobilização popular, Lukashenko responde dizendo que “Já tivemos eleições. Enquanto não me matarem, não teremos outras”.
O homem que está há 26 anos no poder no país dramatiza e diz que isso seria o fim do país como Estado nação. Num discurso durante uma manifestação de apoiantes, Lukashenko acusou a NATO de estar a organizar um plano para o derrubar.
“Há tanques e aviões a cerca de 15 minutos de voo de nossa fronteira. As tropas da NATO rangem os rastros dos tanques à nossa porta. Lituânia, Letônia, Polónia e, infelizmente, nossa amada Ucrânia ordenam que realizemos novas eleições. Se aceitarmos, vamos despencar-nos”, alertou. Segundo a Reuters, a NATO admite estar a acompanhar a situação, mas rejeita ter tanques na fronteira do país.
Apoio de Moscovo
A Rússia ofereceu-se para prestar apoio militar a Lukashenko, embora este não estivesse visível nas manifestações de ontem. Para o Kremlin, o país está a ser atacado devido a pressões externas e Putin afirma que “todos os problemas que surgiram serão resolvidos em breve”.
As relações dos dois países tinham sido tensas nos últimos meses. A Rússia tinha feito pressão para integrar a Bielorrúsia, uma ex-república soviética, no seu território, algo que Lukashenko recusava terminantemente. E na campanha eleitoral que conduziu a estas eleições, o país deteve 33 mercenários russos do Grupo Wagner, um grupo considerado como o braço armado e não oficial do Kremlin, acusando-os de estarem a preparar “actos terroristas”, noticia o Público.
Mas as relações parecem agora estar mais calmas. Os ditos mercenários já foram deportados para a Rússia. O Grupo Wagner tem sido usado por Moscovo em conflitos em territórios em que o país tem interesses: na Ucrânia, Síria, Líbia, e até em África, onde já estiveram em Cabo Delgado, em Moçambique, a combater os jihadistas do Daesh.