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Problemas de saúde mental agravam-se e evidenciam “deficiência crónica de recursos”

Pedidos de ajuda dispararam com a pandemia. Ana Matos Pires, do Programa Nacional para a Saúde Mental da DGS, avança que a situação vai agravar-se e que os jovens afetados pelo desemprego e os idosos serão os mais afetados. “É preciso aumentar os recursos”, alerta.
Foto de Guilherme Yagui, Flickr.

"Já está a sentir-se um aumento de pedidos de consultas de psiquiatria, e da área da saúde mental de maneira geral. E vai agravar-se mais ainda. Além das questões diretamente relacionadas com a pandemia, vão começar a surgir reações por via das consequências socioeconómicas", afirma Ana Matos Pires, citada pelo Jornal de Notícias.

A médica psiquiatra acredita que os mais suscetíveis ao agravamento dos problemas de saúde mental serão os jovens afetados pelo desemprego e os idosos, devido ao isolamento a que estão sujeitos.

"A saúde mental sempre foi o parente pobre da saúde. Os serviços locais fizeram um esforço enorme para dar resposta no início da pandemia. Mas é preciso aumentar os recursos, desde psiquiatras, psicólogos, enfermeiros especialistas", defende Ana Matos Pires, lembrando que o Orçamento do Estado "prevê criar dez equipas comunitárias de saúde mental ainda este ano, duas para cada ARS".

"O SNS está a responder em esforço, sobretudo tendo em conta a deficiência crónica de recursos nesta área. Tem havido muita força por parte do Ministério da Saúde para que isto avance", acrescenta, apontando que "prevendo-se o aumento da doença depressiva, é óbvio que o risco de aumento da taxa de suicídio existe".

A necessidade de aumentar o número de profissionais também se faz sentir na linha de aconselhamento psicológico, criada pelo SNS24 a 1 de abril. Este serviço já atendeu mais de 33 mil chamadas, principalmente mulheres (64%) com uma idade média de 47 anos. Ansiedade, angústia, medo, sintomatologia depressiva ou ideação suicida são os sintomas mais relatados.

O mesmo acontece no Centro de Apoio Psicológico e Intervenção em Crise do INEM. A psicóloga responsável por este serviço, Sónia Cunha, refere que "os pedidos de ajuda via 112 têm vindo a aumentar” e que “julho foi mês recorde". Até ao fim do mês de agosto receberam 163 pedidos de ajuda urgentes. E este número refere-se apenas a situações diretamente ligadas à covid-19. "Parece pouco, mas exclui todas as situações indiretamente relacionadas e as situações de aconselhamento, que são em número muito maior".

"Agora, prevemos um aumento. São as sequelas da situação de crise e a iminência de uma segunda vaga", continua. Está em curso um reforço de dez psicólogos no INEM, para engrossar a equipa de apenas 21 profissionais que cobrem todo o país.

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