Presos da ETA abandonam luta armada

24 de setembro 2011 - 12:30

A declaração subscrita pelo colectivo que representa os 732 presos da ETA em Espanha e França compromete-se com os conteúdos do Acordo de Gernika, que renuncia à violência para conseguir os seus objectivos. O documento já é considerado como o último passo antes do anúncio do fim da ETA.

PARTILHAR
Com o abandono da luta armada por parte da maioria dos seus membros, a ETA pode estar à beira do fim.. Foto Daquella manera/Flickr

Nesta declaração divulgada pelo diário Gara (traduzida em castelhano no El Pais), o Colectivo de Presos Políticos Bascos (EPPK) compromete-se com o acordo assinado pelas organizações políticas da esquerda independentista do País Basco no ano passado em Gernika, que apelava a um novo processo político que afastasse definitivamente a violência como meio da luta política pela independência.



O EPPK sempre foi visto como a voz da ETA nas prisões e este anúncio no fim de semana em que se comemora um ano desde a assinatura do acordo de Gernika terá superado mesmo as expectativas do Ministério do Interior espanhol quanto ao seu conteúdo. Todos os partidos, à excepção do PP, consideraram a declaração uma "boa notícia" e o líder parlamentar socialista disse mesmo que "nunca tínhamos visto nada parecido", considerando que "a ETA está à beira de entrar numa fase que não tem marcha atrás". O porta-voz do governo de Madrid, José Blanco, disse que este anúncio é "um facto inédito e importante, mas não o definitivo", referindo-se ao desaparecimento da ETA, uma das condições prévias que o governo espanhol coloca para abrir as negociações do processo basco.



Os presos bascos consideram ainda que o acordo inclui as suas reivindicações no sentido de "eliminar as medidas de excepção" e repatriar os presos dispersos pelas penitenciárias longe do País Basco, entendendo este processo como "o primeiro passo no caminho para a amnistia". O EPPK afirma ainda que continuará a enfrentar "o sistema penitenciário baseado na repressão e na chantagem" e a recusar "saídas e benefícios pessoais" que sejam oferecidos por "um sistema prisional construído para destruir a nossa identidade política e humana".



Na imprensa de Madrid, o gesto do EPPK é lido como o resultado da preponderância da corrente de Arnaldo Otegi, o líder do Batasuna que vem defendendo o avanço no diálogo político sem a sombra da ameaça da luta armada da ETA. Otegi conseguiu uma maioria esmagadora de presos a favor desta mudança de estratégia, o que corresponde também à maioria da organização que conta ainda com cerca de sessenta membros na clandestinidade e uma centena de exilados na América Latina.