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Polícia marroquina cerca acampamento pacífico saharaui

No “Acampamento da Liberdade”, perto de El Aaiun, estão mais de 15 mil pessoas, há 15 dias, mas já faltam alimentos, medicamentos e água. Uma criança de 14 anos foi assassinada pelas tropas de Marrocos, durante confrontos no local.
A reacção do Governo de Marrocos ao acampamento pacífico dos saharauis foi decretar o seu cerco e a privação de todos os bens essenciais. Foto Associação de Amizade Portugal – Sahara Ocidental

O cerco que as forças policiais e militares marroquinas estão a fazer ao acampamento “faz temer uma catástrofe humanitária que, a todo o custo, há que evitar”, afirma a Associação de Amizade Portugal – Sahara Ocidental, que lança a denúncia e um apelo à solidariedade internacional, alargado a toda a sociedade civil.

Mais de quinze dias após o início da instalação do "Acampamento da Liberdade" a 18 kilómetros da capital ocupada do Sahara Ocidental, as agressões da polícia e do exército marroquino contra os cidadãos saharauis intensificam-se.

Garhi Najem Foidal, de 14 anos de idade, foi assassinado, este domingo, pelas tropas marroquinas que mantêm o cerco ao acampamento.

O delegado da Frente Polisario em Espanha, Bucharaya Beyun, denunciou que além do assassinato do menor ficaram feridas outras cinco pessoas devido aos disparos das forças de ocupação contra o veículo em viajavam as vítimas, informações já confirmadas pelo Ministério de Territórios Ocupados da República Árabe Saharaui Democrática (RASD).

Segundo a associação, famílias inteiras, adultos, crianças, idosos, ergueram este acampamento improvisado como forma de «resistência pacífica» contra as condições socio-económicas “mais que precárias” em que vivem e contra a ocupação do seu país, o Sahara Ocidental, por Marrocos. São já quinze mil mas mais saharauis tentam chegar ao acampamento, procurando romper o cerco que as forças de ocupação montaram à volta do local.

A reacção das autoridades marroquinas foi imediata e militar, enviando rapidamente para o local as Forças Armadas e a Polícia que procederam ao cerco do acampamento com arame farpado, recusando-lhes qualquer tipo de aprovisionamento de água, comida e medicamentos, etc.

Há quinze dias que aquela população vive em condições muito difíceis e que se vêm agravando dia após dia, também com a chegada de feridos que são tratados com os poucos recursos de que dispõem.

Escolhendo esta forma de resistência e protesto pacífico, o povo saharaui tenta denunciar e comunicar a indignação que sente perante a espoliação dos recursos naturais do seu país e o cansaço da espera pela acção da ONU e do que reclamam como um direito e que há décadas lhe vem sendo prometido: a realização de um Referendo de Autodeterminação livre e justo onde possam, sem coações, manifestar a sua vontade quanto ao seu destino.

Uma ocupação que já dura há 35 anos

Na semana passada o Governo saharaui e a Frente Polisario renovaram veementemente o apelo à Comunidade Internacional, nomeadamente ao Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) e ao Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, para que seja posta em aplicação, “sem mais demoras”, a quarta Convenção de Genebra de 1949.

“Quanto maior for a solidariedade, maior a protecção que podemos dar a essas populações da repressão e eventuais represálias por parte das forças de ocupação”, lembra a Associação portuguesa, sublinhando que o silêncio da comunidade internacional, em particular da União Europeia, é sinónimo de cumplicidade na violência e no desrespeito pelo Direito Internacional por parte de Marrocos que prossegue a sua política em impunidade.

Há trinta e cinco anos que as Forças Armadas marroquinas ocupam o Sahara Ocidental, antiga colónia espanhola que o Reino de Marrocos invadiu pela força. O Rei de Marrocos continua a negar-se a cumprir as Resoluções aprovadas pela ONU e pretende persistir na anexação do Sahara Ocidental.
 

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