Podemos abandona grupo parlamentar da coligação Sumar

08 de dezembro 2023 - 10:10

O partido liderado por Ione Belarra rompeu com a coligação de Yolanda Díaz e os seus cinco deputados passam para o Grupo Misto. É o culminar de uma relação marcada desde o início por desacordos e acusações.

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Irene Montero com os membros do Podemos que deixam o grupo do Sumar no Parlamento.
Irene Montero com os membros do Podemos que deixam o grupo do Sumar no Parlamento. Foto Dani Gago/Podemos

O afastamento entre o Podemos e a líder do Sumar, Yolanda Díaz, consumou-se esta semana com a decisão do partido liderado por Ione Belarra de abandonar o grupo parlamentar da coligação Sumar e passar para o Grupo Misto onde estão o Bloco Nacionalista Galego, a Coligação Canária e a União do Povo Navarro.

Além da líder e ex-ministra Ione Belarra, os outros quatro deputados são Lilith Verstrynge, eleita pela Catalunha e responsável da organização do partido, o coordenador autonómico de Murcia, Javier Sánchez Serna, e as secretárias-gerais do Podemos na Andaluzia e Canárias, Martina Velarde e Noemí Santana.

O anúncio da decisão foi publicado no Diario Red, o órgão de informação criado por Pablo Iglesias, um dos fundadores e figura carismática do partido. Citando fontes do Podemos, refere que a "gota de água que fez transbordar o copo" foi a escolha do deputado que interveio no debate parlamentar com o ministro dos Negócios Estrangeiros, com o grupo parlamentar do Sumar a não indicar Ione Belarra, que nas últimas semanas se destacou nas críticas ao primeiro-ministro, reclamando que "passe das palavras aos atos". Uma recusa que se seguiu à escolha dos porta-vozes do grupo que deixou de fora o Podemos, impedindo o partido de apresentar iniciativas próprias.

"O Sumar tentou impedir que os deputados e deputadas do Podemos façam política", explicou Javier Sánchez Serna, recordando que antes disso já tinham "excluído o Podemos do Governo". O deputado acrescentou que "tentámos fazer tudo o que era possível com o Sumar, mas isso revelou-se impossível".

 

A porta-voz do Sumar reagiu à saída dos deputados dizendo que soube da decisão pela imprensa e lamentando a rotura que "significa um incumprimento do acordo de coligação eleitoral do Podemos com o Sumar, e a rotura de um acordo que era para toda a legislatura". Para Marta Lois, trata-se de "uma grande deslealdade com os mais de três milhões de cidadãos que votaram em nós a 23 de julho", pelo que defende que deveriam abdicar do mandato. A líder do Sumar, Yolanda Díaz, afirmou que a rotura do Podemos veio "contribuir para o afastamento dos cidadãos", enquanto Pablo Iglesias diz que a decisão deixa os membros do Podemos "felizes e aliviados" por voltarem a ter voz própria no parlamento espanhol.

Um afastamento há muito anunciado

Se "a gota que fez transbordar o copo" foi a decisão desta semana, a verdade é que o copo começou a encher muito antes. Em março de 2021, quando Pablo Iglesias decidiu deixar o Governo para se candidatar às autonómicas de Madrid - eleição que viria depois a ditar a sua saída da liderança do Podemos na sequência do mau resultado eleitoral - fez questão de indicar Yolanda Díaz como a sua sucessora à frente do espaço político da Unidas Podemos, que juntava os comunistas e outros partidos da esquerda em várias autonomias. Mas fê-lo sem avisar a suposta sucessora, que não escondeu o seu desagrado e que tinha ideias diferentes sobre a recomposição do espaço à esquerda dos socialistas. Meses depois, Yolanda participava num ato público impulsionado por mulheres de esquerda pela criação de um novo projeto político, para o qual não foram convidadas as ministras do Podemos. O projeto viria a concretizar-se em abril deste ano, juntando uma dezena de partidos na nova plataforma Sumar - entre os quais o de Iñigo Errejón, fundador do Podemos afastado em divergência com Iglesias - e no seu lançamento público a direção do Podemos não participou, alegando não ter chegado a acordo sobre a organização de primárias para as candidaturas. No mês seguinte realizavam-se eleições municipais e autonómicas em que o Sumar não concorreu, mas alguns partidos agora integrados no projeto concorriam contra as listas do Unidas Podemos.

O resultado da eleição levou Pedro Sánchez a antecipar as eleições legislativas e o abreviar dos calendários eleitorais não fez diminuir a distância entre a direção do Podemos e Yolanda Díaz, com a líder Ione Belarra e o ex-líder Pablo Iglesias a criticá-la publicamente por não incluir a ministra da Igualdade, Irene Montero, nas listas às eleições de julho. Contados os votos, o que se antevia ser uma vitória retumbante da direita acabou por resultar na possibilidade de revalidação de um governo liderado por Pedro Sánchez. A tensão entre o Podemos e Yolanda Díaz transferiu-se para a escolha dos membros do executivo, com os primeiros a insistirem na presença de Irene Montero e a segunda a propor Nacho Álvarez, o responsável dos assuntos económicos do Podemos, possibilidade que a direção de Belarra rejeitou.

Com uma maioria parlamentar muito apertada, para já os socialistas não terão de se preocupar com a passagem do Podemos ao Grupo Misto. Segundo a imprensa espanhola, Ione Belarra fez questão de telefonar ao "superministro" da Presidência e da Justiça, Felix Bolaños, a garantir a continuidade da colaboração com o executivo. Já os três partidos que até agora integravam o Grupo Misto verão diminuir a subvenção paga pelo Parlamento e também o seu espaço de intervenção política. Eram até agora três deputados que exerciam a presidência do grupo parlamentar de forma rotativa, alternando a cada mês, com duas vice-presidências. Além das verbas financeiras, terão agora de dividir o seu tempo de intervenção no plenário e nas comissões com um partido que tem quase o dobro da sua representação conjunta.

Catalunha em Comum defende que os deputados renunciem aos mandatos

Em antecipação ao anúncio da rotura com o Sumar, a líder parlamentar do grupo En Comú Podem no parlamento catalão deixou de ser membro do Podemos na semana passada. Jéssica Albiach justificou a saída com o veto à dupla militância no partido e no espaço político do Catalunha em Comum, entretanto constituído como partido, integrando a Iniciativa pela Catalunha Verdes (ICV), a Esquerda Unida e Alternativa (EUiA) e outros coletivos.

Numa mensagem aos militantes, a direção da Catalunha em Comum lamentou a rotura do Podemos com o Sumar no parlamento espanhol, apelando aos cinco deputados que abdiquem do seu mandato. Recordando o meio milhão de votos da coligação En Comú Podem na Catalunha, o apelo é dirigido em especial a Lilith Verstrynge, com o partido a considerar que a saída do grupo parlamentar no Congresso dos Deputados corresponde também a um "incumprimento dos acordos que firmaram na Catalunha".