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“Passos Coelho não devia ter regateado vidas dos refugiados”

Na abertura do Fórum Socialismo 2015, a eurodeputada Marisa Matias classificou as quotas discutidas no último Conselho Europeu como “a quantificação da nossa vergonha”. E lembrou o dia em que o primeiro-ministro português se veio gabar de ter conseguido reduzir nas negociações europeias o número de refugiados a acolher pelo nosso país.
Marisa Matias no Socialismo 2015. Foto de Paulete Matos.

“Portugal tinha uma quota para recepção de 15 refugiados em 2013, e de 45 refugiados em 2014, e em nenhum dos casos as cumpriu. Dos 45 relativos a 2014 não chegou ainda um. Já para este ano e próximos, o Conselho Europeu atribuiu inicialmente a re-alocação de 2045 refugiados dos que estão na Grécia ou em Itália, mas Passos Coelho ‘regateou’ e conseguiu reduzir a quota para cerca de 1400”, lembrou Marisa Matias esta sexta-feira à noite na abertura do Fórum Socialismo 2015, que se realiza no fim de semana na Escola Artística Soares dos Reis, no Porto (ver fotogaleria).

“Não me esqueço das declarações à chegada, do orgulho bacoco e da alegria do primeiro ministro a quem quiseram impor 2045 refugiados, mas ele conseguiu reduzir para 1400”, prosseguiu Marisa Matias, antes de defender que “uma crise desta dimensão exige uma resposta à altura”: “Sim, Portugal deveria acolher mais refugiados. Passos Coelho não deveria ter regateado vidas”, concluiu a eurodeputada.

Marisa Matias descreveu a situação no Líbano, onde esteve recentemente numa missão do Parlamento Europeu, “um país dividido, mas que conseguiu unir-se para fugir ao horror da guerra, sem que ninguém tenha dado por isso”, colhendo mais de um milhão e meio de refugiados da vizinha síria, a juntar aos 600 mil palestinianos. “As autoridades libanesas decidiram não construir campos. E assim a quase totalidade das centenas de milhares de refugiados foi acolhida por famílias num país onde metade da população vive na pobreza”, acrescentou a eurodeputada, sublinhando o agravamento da situação nos últimos meses que obrigou o país a fechar as fronteiras e a construir 1200 campos para acolher quem foge da guerra. “Se resistem ou não, depende mais de nós do que deles“, avisou, recordando que no ano passado apenas 340 mil refugiados, boa parte vindos da Síria, escolheram a Europa como destino, o que representa 0.045% da população europeia.

“A ameaça dos refugiados totaliza uns esmagadores 0,045% da população total. Para carregar no tom e na dose, não se fala de refugiados, mas antes de imigrantes. Erro crasso e perigoso. Fala-se também de terroristas. Outro erro que pagaremos caro com sociedades cada vez mais fechadas sobre si mesmo e terreno fértil para o racismo e a xenofobia”, alertou Marisa Matias.

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