Para reduzir os super-micróbios, o mundo deve combater a poluição

16 de abril 2024 - 11:20

Até 2050 poderão ocorrer até dez milhões de mortes anuais devido à resistência anti-microbiana. A poluição em setores-chave da economia contribui para o seu desenvolvimento, transmissão e disseminação. O custo disto vai empurrar mais 24 milhões de pessoas para a pobreza extrema.

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Pormenor da capa do relatório da PNUMA.

Um relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente lançado a semana passada na Sexta Reunião do Grupo de Líderes Globais sobre Resistência Anti-Microbiana (RAM), realizada em Barbados, mostra como a redução da poluição gerada pelos setores farmacêutico, agrícola e da saúde é essencial para reduzir o surgimento, a transmissão e a propagação de super-micróbios que se tornam resistentes aos antibióticos conhecidos e outros casos de resistência anti-microbiana.

O texto, intitulado Preparando-se para os super-micróbios: fortalecendo a ação ambiental na resposta à resistência anti-microbiana pela abordagem de Saúde Única, defende que deve haver uma “resposta de Saúde Única” que “reconheça que a saúde das pessoas, dos animais, das plantas e do meio ambiente estão intimamente ligados e são interdependentes”, colocando “a prevenção no centro da ação necessária para deter o surgimento da RAM” e o meio ambiente como “uma parte fundamental da solução”.

Mia Amor Mottley, primeira-ministra de Barbados e presidente daquele grup sobre RAM, explica que "a atual crise ambiental é também uma crise de direitos humanos e geopolítica – o relatório de resistência antimicrobiana publicado hoje pelo PNUMA é mais um exemplo de iniquidade, na medida em que a crise da RAM está a afetar desproporcionalmente os países do Sul Global”.

Por causa da RAM, os medicamentos anti-microbianos usados para prevenir e tratar infeções em humanos, animais e plantas perdem a sua eficácia. Na lista da Organização Mundial de Saúde é uma das dez principais ameaças globais à saúde. Calcula-se que, em 2019, 1,27 milhões de mortes tenham sido devidas a infeções resistentes a medicamentos e que 4,95 milhões de mortes estiveram associadas à RAM bacteriana. De acordo com as estimativas do grupo, é esperado que esta cause dez milhões de mortes diretas adicionais por ano até 2050.

Para além disso, o relatório fala do custo económico da RAM, prevendo que resulte numa queda do PIB de pelo menos 3,4 biliões de dólares ao ano até 2030, “empurrando mais 24 milhões de pessoas para a pobreza extrema”.

Para além da poluição biológica e química, a RAM também se disseminará por causa do aumento de temperaturas, dos padrões climáticos extremos e das mudanças no uso do solo que alteram sua diversidade microbiana.

Inger Andersen, diretora executiva do PNUMA, afirma que “a poluição do ar, do solo e dos cursos de água mina o direito humano a um ambiente limpo e saudável”. Os mesmos fatores que provocam a degradação do meio ambiente estão a agravar o problema da resistência anti-microbiana. E os impactos da resistência anti-microbiana podem destruir a nossa saúde e os nossos sistemas alimentares”. Por isso, “a redução da poluição é um pré-requisito para mais um século de progresso rumo à fome zero e à boa saúde”.