Cerca de 600 funcionários dos estaleiros de Viana deverão partir esta terça-feira para Lisboa num protesto que vai terminar no Palácio de São Bento, reclamando explicações sobre o futuro da empresa, confirmou hoje a comissão de trabalhadores.
“Ainda estamos a receber inscrições, e muitas vão ser na própria hora, mas a nossa expectativa é levar cerca de 600 trabalhadores a Lisboa e uma dezena de autocarros”, explicou à agência Lusa António Costa, porta-voz da comissão de trabalhadores dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENVC).
A partida de Viana do Castelo está agendada para as 7:30 de terça-feira e o protesto na capital deverá arrancar pelas 15:30, à porta da Empordef, holding pública para as indústrias de Defesa, que tutela os estaleiros, antes de terminar junto à residência oficial do primeiro-ministro.
Segundo António Costa, os trabalhadores pretendem denunciar na capital a situação vivida pela empresa, que está praticamente parada, face à falta de respostas do Governo, sendo o quinto protesto – o segundo em Lisboa – desde junho de 2011.
"É o momento de informarem os trabalhadores do que se está a passar, porque somos acima de tudo pessoas, mas que vivem um verdadeiro terrorismo psicológico há dois anos", realçou ainda o porta-voz dos trabalhadores, garantindo que a empresa “está parada porque o Governo quer”.
No Palácio de São Bento, os trabalhadores vão tentar entregar a Pedro Passos Coelho uma resolução reclamando a viabilidade dos estaleiros, pedindo ainda que o processo de reindustrialização "comece" precisamente com a empresa de Viana do Castelo.
Exigem também a libertação de 27 milhões de euros para aquisição de aço e motores necessários ao arranque da construção de dois navios asfalteiros para a Venezuela.
Trata-se de um contrato de 128 milhões de euros, de 2011, revisto por duas vezes mas que continua sem sair do papel, com os trabalhadores a garantirem que a empresa poderá entrar a curto prazo em incumprimento.
"Os trabalhadores dos estaleiros de Viana só pedem para trabalhar", rematou António Costa.
A última fase do processo de privatização dos estaleiros terminou em novembro, com a apresentação das propostas vinculativas de compra. Foram admitidas, na altura, propostas dos russos da RSI Trading e dos brasileiros da Rio Nave, ambas salvaguardando a totalidade dos 630 postos de trabalho da empresa pública.
Contudo, a venda da empresa está suspensa desde dezembro devido a pedidos de esclarecimento apresentados pela Comissão Europeia ao Governo português, por dúvidas na atribuição de apoios estatais aos ENVC de 180 milhões de euros.
"É verdadeiramente ruinoso e incompreensível que a empresa não esteja neste momento a trabalhar"
"É verdadeiramente ruinoso e incompreensível que a empresa não esteja neste momento a trabalhar", resumiu a Coordenadora do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, aquando da visita aos Estaleiros de Viana. "Esta empresa é vital, não apenas em Viana mas em todo o país" e que "a perda de postos de trabalho e a desvalorização da empresa terá um efeito dominó sobre toda a região, do ponto de vista económico e do emprego, que é verdadeiramente catastrófico e é preciso evitar", acrescentou.
O Bloco mantém a posição de que "esta empresa é viável e todas as pessoas percebem que num país em que tem de se apostar no crescimento económico e nas exportações - e no mar como setor estratégico - os Estaleiros Navais de Viana do Castelo são necessários". Para Catarina Martins, "uma empresa que tem encomendas e capacidade de resposta, que deveria estar agora a dar resposta às necessidades da marinha mercante ou da GALP, de todos os setores exportadores e que precisam do seu trabalho".
O cenário de privatização, para o qual apenas os russos da RSI Trading se declaram compradores "não trará nada de bom aos cofres públicos", diz a coordenadora bloquista.
"É verdade que houve gestão ruinosa nesta empresa e todas as responsabilidades devem ser apuradas. Mas neste momento privatizá-la não resolve nenhum problema: tudo o que é passivo da empresa já está do lado dos contribuintes. Quem ficar com ela fica a preço de saldo com uma empresa que é importante para o país e os cofres públicos estão sempre a perder dinheiro".