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“Os líderes mundiais fizeram promessas, mas não se comprometeram com nada”

Catarina Martins defendeu este sábado que “a promessa de uma Europa mais democrática não significa nada se for meramente formal e não relacionada com as condições de vida dos trabalhadores”. As declarações foram feitas no Congresso do Partido da Esquerda Europeia, que se realiza em Málaga. Veja aqui o vídeo da intervenção e a sua tradução para português.
Fotografia: Partido da Esquerda Europeia
Fotografia: Partido da Esquerda Europeia

“Enfrentamos hoje três grandes crises e emergências: social, climática e da paz. Cada uma delas está relacionada com as outras e todas exigem uma resposta anticapitalista.

Nos lugares onde o comércio de guerra e a indústria do petróleo governarem, não haverá paz. As pessoas que tentam escapar da guerra morrem nas fronteiras da mesma Europa que prometeu proteger os direitos humanos, mas prefere continua alinhada com as agressões da NATO e faz negócios com os senhores da guerra.

E, à medida que as mudanças climáticas espalham devastação em tantas partes do planeta, os refugiados climáticos e as guerras por recursos aumentarão.

A Europa, o continente mais rico do planeta, não apenas é uma parte do problema no que concerne à guerra e ao clima, mas também no que diz respeito à própria crescente crise social. A agenda neoliberal que governa a União Europeia minou os direitos dos trabalhadores e está a destruir o Estado Social. Assim, a escola pública, os SNS, o Estado social e as pensões estão em risco.

Agora interessa saber: quem é dono do que pertence ao povo? Nenhuma mudança é possível sem poder de decisão e sem os recursos necessários, estejamos a falar de uma mudança ecológica da nossa economia ou da reconstrução dos serviços públicos. Precisamos de falar de offshores, privatizações, concentração de riqueza e de poder.

Terminou agora a COP25 em Madrid. A mobilização popular em todo o mundo foi fortíssima.

Mais uma vez, os líderes mundiais fizeram promessas, mas não se comprometeram com nada. A determinação dos líderes mundiais em enfrentar as mudanças climáticas acaba sempre onde começam os grandes lucros das empresas internacionais.

A Comissão Europeia anunciou um Green Deal [Acordo Verde], mas esqueceu-se de explicar como é que vai aplicar as mudanças e como é que vai pagá-las. Os Estados Unidos, a Rússia e a China recusam soluções e preferem negar a ciência para enfrentar o crescente problema de emissões. Não é novidade: o imperialismo passa por explorar trabalhadores e recursos naturais. E é por isso que a esquerda que está com os milhões de jovens que dizem que “não há planeta B” deve combater todas as estratégias imperiais, sejam norte-americanas, russas ou chinesas, que são estratégias de guerra, que lutam pelo controlo de recursos comuns e destroem o planeta, que desconsideram os direitos humanos. A esquerda só conseguirá defender a paz e o clima com uma clara estratégia multilateral e anti-imperialista.

Lidar com a crise climática exige uma mudança estrutural na economia. Só conseguiremos salvar o planeta e alcançar justiça social quando pararmos com a economia extrativista e ganharmos controlo público dos recursos naturais e dos bens comuns.

As gerações mais novas que ocuparam as ruas a exigir justiça climática surpreenderam o mundo e representam uma nova esperança para uma mudança real.

Vimos de diferentes países e temos experiências diferentes. Em Portugal, nos últimos quatro anos, o Bloco tinha um acordo com o Partido Socialista. Respondia a uma emergência económica e social e respondemos por ela. Mas nunca desistimos do nosso programa e nunca nos esquecemos de que a nossa aliança é com o povo.

Em cada país, é responsabilidade da esquerda lutar por maiorias sociais progressistas. Estamos com os movimentos sociais, com trabalhadores, feministas, anti-racistas e ativistas do clima. Nas nossas responsabilidades institucionais, tomamos decisões que têm capacidade de responder às necessidades das pessoas a cada momento. E certamente temos enfrentamos muito diferentes.

Um deles é a ascensão da extrema-direita, produto da crise social e da falta de esperança. As eleições no Reino Unido ontem e um apoio esmagador a um Brexit baseado em mentiras xenófobas são o resultado mais recente da aliança entre conservadores, neoliberais e extrema-direita. Numa campanha radicalmente dominada pelo Brexit e sem resposta do Partido Trabalhista, a extrema-direita liberal venceu. A direita dirá agora que se tratou de uma derrota do programa progressivo económico e social de Corbyn, mas não nos devemos esquecer de que, nas eleições anteriores, o mesmo programa radical teve um resultado melhor. Só um programa que defenda uma mudança radical pode responder pelos trabalhadores.

Onde há raiva e não há esperança para o futuro, sobra o ódio. E temos a responsabilidade histórica de combater a extrema-direita e o fascismo. Para isso, precisamos de combater as suas causas e ouvir a indignação das pessoas contra um sistema que condena as novas gerações a viver pior do que as anteriores viviam, um sistema estruturalmente patriarcal e racista, dominado pela elite financeira que diz aos trabalhadores que os baixos salários e a precariedade são o único futuro possível.

A ideia de que, para derrotar a extrema-direita e defender a democracia, a esquerda deve alienar o seu programa é perigosa. A promessa de uma Europa mais democrática não significa nada se for meramente formal e não relacionada com as condições de vida dos trabalhadores. A democracia de que a Europa precisa é a que traz salários e casas decentes, serviços públicos fortes e Estado social, assim como controlo público de setores estratégicos. A esquerda tem a responsabilidade de construir soluções corajosas para devolver ao povo o que pertence ao povo. Para construir o Socialismo."

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