Oposição sudanesa diz que só aceita governo de transição civil

11 de abril 2019 - 12:40

Os protestos populares fizeram cair o regime de Omar al-Bashir. Militares vão anunciar transição de poder, mas líderes dos protestos querem governo de transição composto por civis.

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Foto dos protestos das últimas semanas, publicada pela Associação de Profissionais do Sudão no Facebook

Após cinco dias de concentração em frente ao quartel general das tropas em Cartum, esta quinta-feira fontes governamentais confirmaram à Reuters a saída do presidente Omar al-Bashir.

Segundo a agência de notícias, o ministro da produção e recursos económicos Adel Mahjoub confirmou ao canal televisivo al-Hadath que “decorrem conversações para a formação de um conselho militar para assumir o poder após a saída do presidente Bashir”.

Essa saída para a crise política aberta pelos protestos iniciados em dezembro contra o aumento do preço do pão e dos combustíveis não agrada à oposição que convocou as manifestações.

A Associação de Profissionais do Sudão, fundada em 2016 por associações de jornalistas, advogados e médicos e que se alargou a outras classes profissionais em busca de um sindicalismo independente, é hoje a força motriz dos protestos.

Em comunicado divulgado esta quinta-feira, a associação apela à mobilização para continuar as concentrações. “Afirmamos que o povo do Sudão não aceitará nada menos do que uma autoridade transitória civil, composta por um grupo patriótico de peritos que não tenham estado envolvidos com o regime de tirania” de comandado por al-Bashir. O comunicado apela à liderança das forças armadas para “entregar o poder ao povo, de acordo com o que está expresso na declaração de liberdade e mudança”.

Durante a concentração em frente ao quartel que também acolhe o edifício do Ministério da Defesa e uma residência presidencial, os militares protegeram os manifestantes da repressão policial que matou mais de uma dezena de pessoas em várias cidades do país.

Para além dos efeitos da crise económica que agravou a extrema pobreza do povo sudanês, o protesto fez-se também “contra o legado de criminalidade e corrupção que caracterizou o governo de al-Bashir e da sua junta”, aponta a associação, acrescentando que “o regime infiltrou as suas práticas corruptas profundamente no estado sudanês, dividiu as pessoas e abandonou-as, até chegar a este ponto em que o país está à beira do colapso”.