A ideia de que a atividade de resgate de migrantes no Mediterrâneo feita por várias organizações não governamentais potenciaria a migração, acabando assim por favorecer redes criminosas que se dedicam à sua exploração é repetida por vários governos europeus e por partidos de extrema-direita. O objetivo é estigmatizar quem ajuda e desviar responsabilidades mas a tese não colhe o apoio de especialistas que estudaram o tema.
Num estudo científico publicado esta quinta-feira na Scientific Reports da revista da Nature, intitulado Search-and-rescue in the Central Mediterranean Route does not induce migration: Predictive modeling to answer causal queries in migration research, pode ler-se: “os nossos resultados estão em linha com a anterior investigação descritiva sobre o papel das operações de busca e resgate e, geralmente, com o estudo das motivações de migração – que sugere que a migração irregular é muito melhor explicada pela deterioração das condições económicas, degradação ambiental, conflitos ou violência e perseguição política”.
A equipa de cientistas liderada por Alejandra Rodríguez Sánchez, da Universidade de Potsdam, e por Stefano Maria Iacus, da Universidade de Harvard, analisou dados da agência da União Europeia Frontex, das guardas costeiras da Líbia e da Tunísia, da Organização Internacional para as Migrações e da rede europeia United for Intercultural Action respeitantes ao período entre 2011 e 2020 na rota do Mediterrâneo Central, procurando identificar os fatores que influenciam a tomada de decisão dos migrantes. E concluem que as operações de resgate, privadas ou públicas, não determinam o número de tentativas de fazer o percurso.