Recep Erdogan tomou posse pela primeira vez como presidente da Turquia a 28 de agosto de 2014.
Os Repórteres sem Fronteiras fazem um balanço destes dez anos de um poder “predador da liberdade de imprensa e do pluralismo da informação”.
Erol Onderogl, representante da organização naquele país, fala numa “década repressiva” que colocou claramente o jornalismo independente em risco de extinção”. O jornalista sublinha “a instrumentalização da justiça e do audiovisual público bem como o controlo sobre a propriedade dos meios de comunicação social e das instituições reguladoras”.
Ao longo deste tempo, cinco jornalistas foram mortos, 131 foram detidos pelo menos durante 48 horas, centenas têm processos judiciais, só por “insultos ao presidente” foram condenados 77, 85% dos meios de comunicação social privados estão controlados pelo poder e o Instagram, a Wikipedia e o Twitter são alvos de bloqueios.
Estes números sintetizam uma história que começou até antes de Erdogan assumir a presidência. Ainda era “apenas” primeiro-ministro quando geriu a onda de manifestações anti-governamentais do movimento do Parque Gezi na primavera de 2013 através de “uma espiral de violência inédita contra os profissionais de informação”. Na altura, 150 jornalistas foram agredidos.
Foi também como primeiro-ministro, cargo que assumiu em 2003, que começou a abrir caminho para o controlo dos meios de comunicação criando um sistema financeiro que permite a apreensão de empresas de comunicação social endividadas para as atribuir a empresas próximas do poder, o que foi sendo feito. Já para não falar no controlo da empresa pública de audiovisual, a TRT.
Os outros números apresentados pelos RSF são os que começam a contar a partir da sua tomada de posse como presidente em 2014. A sua presidência utiliza, acusam, os processos judiciais e detenções como “meios privilegiados” para “intimidar os profissionais da comunicação e impedir todo o debate sobre o autoritarismo, a questão curda, a corrupção ou o clientelismo político”. Recorda-se que na sequência da tentativa de golpe de julho de 2016 a Turquia se tornou “a maior prisão do mundo para os jornalistas” com “prisões arbitrárias massivas” em muitas redações. Hoje, o “assédio judicial dos meios de comunicação social continua a ser moeda corrente no país” afirma a organização de jornalistas.
A perseguição judicial faz-se muitas vezes com base na acusação de “propaganda de uma organização terrorista”, “insulto a agente público”, “insulto ao presidente” ou “denegrir das instituições do Estado”.