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O covid-19 em África: receios aumentam, economia devastada

A Organização Mundial de Saúde alerta para as possíveis consequências sanitárias da pandemia num continente com muito poucos ventiladores e camas de cuidados intensivos. Quanto às consequências económicas, essas, são já devastadoras.
Trabalhadores do setor da saúde numa campanha de testagem porta-a-porta na Cidade do Cabo, África do Sul. NIC BOTHMA/EPA/LUSA.
Trabalhadores do setor da saúde numa campanha de testagem porta-a-porta na Cidade do Cabo, África do Sul. NIC BOTHMA/EPA/LUSA.

Os números conhecidos este sábado dão conta de um aumento de infeções e de mortes no continente africano devido à pandemia da Covid-19. Morreram até agora 693 pessoas e há um total de 12.973 casos em 52 países.

Segundo o Centro de Controlo e Prevenção de Doenças da União Africana, em 24 horas morreram 63 pessoas e mais 754 foram infetadas. A pandemia está presente agora por todo o continente (em 55 dos 52 países) mas metade dos casos concentram-se em apenas quatro países: África do Sul (com 2.003 casos), Argélia (com 1.761 casos), Egito (com 1.794) e Marrocos (com 1.448).

À partida, estes números, apesar de sempre graves, pareceriam não indicar um problema tão intenso como no continente europeu. Mas o diretor da Organização Mundial de Saúde, Tedros Adhanom Ghebreyesus, é claro. Há vários países onde a disseminação já é comunitária e o continente vai precisar de ajuda devido às fracas condições dos seus sistemas de saúde.

Em África há cinco camas de cuidados intensivos por milhão de habitantes. Na Europa são quatro mil. Faltam também ventiladores: 41 países comunicaram que têm menos de dois mil ventiladores em condições.

O Comité Internacional de Salvamento informa de alguns dos casos mais graves: no Sudão do Sul há apenas quatro ventiladores e 24 camas de cuidados intensivos, na Somália serão 15 e no Burkina Faso apenas 11. Na Serra Leoa há 13 ventiladores, na República Centro-Africana apenas três.

Desastre económico

Ainda que a pandemia fosse menos intensa no continente africano, já nada pode impedir o desastre económico. O continente é fortemente dependente das transações com vários dos países que sofreram quebras históricas: China, Estados Unidos e países da zona euro.

A União Africana fala em 20 milhões de empregos diretamente ameaçados pela perda de venda de matérias-primas, a derrocada do turismo e a diminuição de receitas provenientes dos trabalhadores que emigrados. A ONU pensa que poderão ser mais do dobro, avançando com 50 milhões. Será a primeira vez em 25 anos que a África Sub-sahariana enfrentará uma recessão. De um crescimento de 2.4% em 2019 passar-se-á para uma recessão entre -2,1 % e -5,1 %, segundo o Banco Mundial.

A maior economia da África sub-sahariana, a África do Sul, despediu já perto de 450 mil mineiros devido às paragens de produção. A Nigéria e Angola, dependentes da exportação de petróleo, também estão em maus lençóis.

Para além do setor extrativista, também as exportações agrícolas sofreram um choque. Registou-se uma queda nas exportações de café. E o confinamento nos países mais ricos travou igualmente o fluxo de turistas. As companhias aéreas do continente estão paradas e sem viabilidade económica e vários outros setores dependentes deste ameaçados.

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