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Nicarágua: Greve geral e militarização de Manágua

A ACJD e a UNAB tinham convocado para o dia 23 de maio deste ano uma greve geral nacional pela libertação imediata e definitiva de todos os presos políticos. Esta ação foi um grande sucesso. Por Matthias Schindler
Manágua, greve geral de 23 de maio de 2019
Manágua, greve geral de 23 de maio de 2019

Como vários vídeos na Internet (ver abaixo) mostram, houve muito pouco movimento nas ruas da capital Manágua e de muitas capitais de várias regiões; a maioria das grandes e pequenas lojas estava fechada; centros comerciais, postos de gasolina ou bancos que abriram por ordem da direção ou por pressão do governo estavam completamente vazios; quase ninguém esperava nas paragens dos autocarros; as lojas dos grandes mercados estavam fechadas ou vazias.

Mas o apelo da Unión Nacional Azul y Blanco (UNAB) para uma marcha pacífica pela libertação de todos os presos políticos, no domingo 26 de maio, teve que ser cancelada pelos organizadores. Toda a área onde a manifestação deveria acontecer foi militarizada por uma massiva força policial. Os organizadores queriam evitar uma repressão violenta, como já tinha acontecido anteriormente, por parte das forças repressivas do Estado.

A situação atual é, portanto, caraterizada pela população se manifestar pela resistência passiva, o que indica quão fortemente rejeita a ditadura de Ortega. Mas, após mais de um ano de enorme repressão a vários níveis, ainda não se sente suficientemente forte para manifestar o seu protesto de forma massiva na rua.

Nas semanas anteriores, a Alianza Cívica por la Justicia y la Democracia (ACJD) repetidamente reclamou publicamente que o regime Ortega não cumpria os seus próprios compromissos de libertar os presos políticos, restaurar as liberdades civis e permitir que as organizações de direitos humanos nacionais e internacionais pudessem novamente atuar legalmente. Em particular, o regime recusou-se a discutir sobre eleições antecipadas e também sobre um processo de busca da verdade e da perseguição dos responsáveis pela repressão assassina do ano passado.

Depois da morte do preso político Eddy Montes, baleado por um funcionário da notória prisão El Modelo no dia 16 de maio, a Alianza Cívica declarou a suspensão do diálogo com o governo e que ia a retomar as conversações quando todos os prisioneiros políticos fossem libertados.

A Alianza Cívica e todos os organismos agrupados na UNAB convocaram a greve geral de 23 de maio. Como a Nicarágua ainda é um país em grande parte agrário, e tem apenas uma pequena classe trabalhadora organizada, era importante que as associações dos empresários, os pequenos comerciantes e os pequenos produtores apoiassem esse apelo. O lema era: "Se eles não nos deixarem sair para a rua, vamos esvaziá-las!" E esse é o que o movimento de oposição conseguiu fazer com êxito. Quem conhece a turbulência nos mercados nas cidades de Nicarágua, o caos do tráfico nas ruas, os autocarros cheíssimos, as filas sem fim nos bancos, os milhares de vendedores ambulantes, os estacionamentos completos em frente dos centros comerciais, as intermináveis sequência de lojas, tascas e restaurantes na beira das ruas ... pode, na base de diversos vídeos e fotos na Internet, reconhecer facilmente que esta greve geral foi ativamente apoiada por uma grande maioria da população.

Carlos Fernando Chamorro, editor da revista online Confidencial, identifica quatro grandes derrotas políticas sofridas pela ditadura Ortega nos últimos dias: primeiro, a Alianza Cívica, através da interrupção do diálogo deixou claro para todo o mundo que o regime de Ortega não cumpre as medidas prometidas para relaxar a situação política no país. Em segundo lugar, os presos políticos, independentemente de ainda estarem na prisão ou já terem sido transferidos da cadeia para a prisão domiciliária, mostraram um grande poder mobilizador. Terceiro, o Conselho da Organização dos Estados Americanos (OEA) condenou a política de Ortega com 20 votos a favor e somente 3 contra (de um total de 35 Estados membros) e pediu o restabelecimento imediato de condições democráticas. E, em quarto lugar, a greve geral do 23 de maio mostrou claramente que a grande maioria da população apoia a Aliança Cívica.

O presidente Ortega continua a seguir uma política de tudo ou nada, mas o seu espaço de manobra política torna-se cada vez mais estreito. A menos que haja uma clara abertura política nas próximas semanas, sanções económicas por parte dos EUA e da União Europeia serão as consequências inevitáveis. Agora o regime exige da oposição que se pronuncie contra essas sanções. Mas esta responde que as sanções só podem ser impedidas por um meio: uma profunda democratização da sociedade. Mas isso só é possível se o casal ditador Ortega-Murillo for removido do poder.

Para os seguidores de Ortega, a questão fica cada vez mais clara: querem afundar-se com o regime ou apoiar uma mudança democrática? O movimento de oposição enfrenta agora o desafio de encorajar os elementos inseguros na base orteguista a separar-se definitivamente do ditador. Para que isto aconteça, devem ser construídas pontes que lhes facilite finalmente fazer separação essa, que já está muito atrasada.

Artigo de Matthias Schindler para o esquerda.net

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Sobre o/a autor(a)

Técnico de construção de máquinas reformado. Politógo.
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