A situação em que vivem muitos imigrantes que trabalham na agricultura intensiva no Alentejo tem sido notícia pelas inspeções da Autoridade para as Condições do Trabalho e pelas condições em que são obrigados a viver, sem alojamento adequado e muitas vezes a receber salários abaixo da remuneração mínima nacional, por causa de redes de intermediários que se alimentam desta exploração que viola dos direitos humanos.
O Bloco de Esquerda tem insistido em propostas no sentido de acabar com esta situação e garantir que quem ali trabalha tem o direito a uma vida digna. E foi isso que Mariana Mortágua disse nas conversas que manteve com um grupo de uma dezena de trabalhadores em Odemira.
"A minha geração é filha de emigrantes portugueses", declarou a coordenadora bloquista, e "nós devemos às pessoas que nos procuram e que em larga medida mantêm a nossa economia condições muito melhores do que os nossos pais, avós ou tios tiveram quando emigraram para França".
Comentando os relatos na primeira pessoa que ouviu dos trabalhadores ali presentes e outras histórias que testemunharam com amigos e colegas de trabalho, sobre as casas sobrelotadas, a falta de contrato de trabalho, as jornadas laborais de doze horas passadas ao sol e com um descanso que não chega a meia hora. Mariana resumiu os relatos destes imigrantes como "histórias de enorme precariedade e exploração".
"Ouvimos pessoas que estão a trabalhar para empresas que já estão a dar contratos e vivem em condições um pouco melhores, mas também pessoas que não têm estes contratos e ficam na mão de intermediários que cobram aos donos das explorações agrícolas, mas não lhes pagam a eles o salário que cobram", afirmou Mariana Mortágua aos jornalistas presentes.
Numa economia que depende da imigração, seja na agricultura intensiva seja para alimentar o turismo", ninguém pode achar "que temos um país sustentável maltratando as pessoas que mantêm a economia e que têm direito a procurar uma vida melhor, como os portugueses também procuraram uma vida melhor quando isso foi necessário e continuam hoje a procurar", prosseguiu.
"Deixo aqui uma palavra de solidariedade e que são bem-vindos, que há em Portugal quem luta pelas suas condições de trabalho e reconhece como é difícil e o que é preciso para alguém abandonar o seu país, vir à frente e depois trazer as suas famílias para procurar uma vida melhor, que afinal é o que todos queremos", afirmou Mariana Mortágua. Uma mensagem ainda mais importante "num momento político em que há tanto ódio e ressentimento. Por isso "é preciso deixar esta mensagem de solidariedade e de exigência de condições de vida para toda a gente, imigrantes ou não".
No caso destes trabalhadores oriundos de países asiáticos, "as pessoas estão mais vulneráveis, quando não sabem a língua nem conhecem as regras", o que leva muitos a ficarem "na mão de intermediários porque não sabem como aceder a um agendamento na Segurança Social, e têm de pagar 200 euros para esse intermediário fazer o agendamento", o mesmo acontecendo com a restante burocracia. Tudo isso podia ser evitado com mais fiscalização do trabalho e com serviços públicos preparados para se dirigirem a esta população, evitando que seja vítima destas fraudes.
Por outro lado, "tem de haver responsabilização de quem contrata", insistiu Mariana. "O dono de uma exploração agrícola não pode pagar um salário abaixo do salário mínimo e depois desresponsabilizar-se porque o intermediário ou o agente abriu uma empresa, fechou a empresa e desapareceu. Quem contrata tem de dar salários dignos e condições dignas", defendeu.
E em terceiro lugar, "é preciso resolver a carência de habitação", que não se sente apenas nas grandes cidades mas está espalhada para estas zonas com grande concentração de mão de obra e pouca ou nenhuma oferta habitacional disponível.
Em suma, "não podemos ter a hipocrisia de contar com estas pessoas para alimentar a economia e a natalidade que o país precisa e depois não lhes dar o mínimo de condições para integrar-se e viver aqui", resumiu a coordenadora do Bloco, salientando que não é só quando há um período de crise que este tema é importante, pois "quando passa a crise as pessoas esquecem-se, porque há um exército de invisíveis que trabalha para a economia funcionar. É preciso olhar para eles durante todo o ano e não apenas quando há um problema".