Mundial 2030: Gijón renuncia a acolher jogos, Valência tem dúvidas

28 de fevereiro 2024 - 17:22

As despesas com a ampliação de estádios e outros apoios públicos estão a afastar vários municípios espanhóis das candidaturas a acolher o Mundial da FIFA.

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Interior do estádio El Molinón, em Gijón.
Interior do estádio El Molinón, em Gijón. Foto HesselinK/Wikimedia Commons

Para ser uma das 11 a 15 cidades sede do Mundial de Futebol de 2030, que Espanha organiza em conjunto com Portugal e Marrocos, Gijón teria de ampliar a capacidade do seu estádio, tal como acontece com outras cidades potenciais candidatas, como Vigo, Corunha e Las Palmas. No caso do El Molinón, onde cabem 30 mil espectadores, é preciso construir bancadas para acolher mais 10 mil para a fase de grupos e até aos quartos de final da competição. A FIFA exige que as meias finais sejam disputadas em estádios com capacidade mínima para 60 mil e a final num estádio com bancadas onde caibam pelo menos 80 mil pessoas.

O estádio asturiano é propriedade do município e a autarca fez as contas e concluiu que a obra custaria 150 milhões de euros. O problema é que nenhuma entidade apresenta garantias financeiras para cobrir a despesa. Além disso, a FIFA exige à autarquia que subscreva um seguro no valor de 100 milhões e a organização do Mundial reserva-se o direito de rescindir o contrato assinado. Para a alcaldesa Carmen Moriyón, eleita pelo Foro Astúrias, o que a FIFA lhe está a pedir é "um cheque em branco", pelo que anunciou que se retirava da corrida, noticia o El Diario.

O mesmo órgão dá conta das dúvidas sobre a participação da cidade de Valência neste evento. Aqui o estádio será novo e propriedade do clube detido pelo magnata de Singapura Peter Lim, mas este pede benefícios nas licenças urbanísticas que permitam construir 75.900 metros quadrados de área residencial e 14.000 metros quadrados de área de serviços nos terrenos do antigo estádio Mestalla, além de mais 41.700 metros quadrados para serviços na avenida das Corts Valencianes, assim valorizando o negócio de venda daqueles terrenos nas zonas mais apetecíveis da cidade para o setor imobiliário. Enquanto o clube e a autarquia agora governada pelo PP e Vox mantêm o conflito em tribunal, a vereação aprovou - com o voto a favor do Compromís e a abstenção dos socialistas - uma auditoria ao custo real da obra do novo estádio para pedir garantias bancárias ao dono do clube. Socialistas e Compromís têm acusado a alcaldesa María José Catalá de negociar à porta fechada com Peter Lim.

Anunciado como um evento que traria benefícios para o país, o Mundial de Futebol, tal como outros mega-eventos desportivos como os Jogos Olímpicos, têm resultado em défices estruturais para quem os acolhe nas últimas décadas. E também por isso haja cada vez mais cidades a renunciarem à apresentação de candidaturas. Foi o caso de Boston (link is external), Budapeste (link is external), Davos (link is external), Hamburgo (link is external), Cracóvia (link is external), Munique (link is external), Roma (link is external) e Estocolmo (link is external).

"A FIFA é especialista em transferir dinheiro público para os bolsos privados, pelo que ninguém se devia espantar que atraiam os anfitriões com grandes promessas e a seguir mudem os termos do acordo a seu favor", diz ao El Diario o especialista em política desportiva Jules Bykof, professor na universidade norte-americana do Oregon.

Além da capacidade dos estádios, a FIFA exige ainda a cedência gratuita de espaços publicitários nas ruas da cidade e nos seus transportes públicos, espaço público para as zonas de fás e isenções fiscais para si e para terceiros implicados na organização.

O prazo para a federação espanhola de futebol enviar os dossiers com as cidades candidatas definitivas termina em julho, mas nas próximas semanas serão conhecidas as que se mantêm na corrida.

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