Em comunicado, a Coordenadora Estatal das Associações Solidárias com o Sahara Ocidental (CEAS) - Espanha e a Associação de Amizade Portugal-Sahara Ocidental (AAPSO) frisam que “no desporto não pode haver lugar para países cujos regimes violam sistematicamente os Direitos Humanos e se servem dele para lavar a sua imagem”.
“Num tempo em que provamos todo o horror e amargura que um conflito sem fim é capaz de criar, estamos, com este gesto de branqueamento consentido, a incorrer no mesmo erro”, escrevem.
A CEAS e a AAPSO recordam as declarações da FIFA: “Dois continentes – África e Europa – unidos não só numa celebração do futebol, mas também numa coesão social e cultural única. Que grande mensagem de paz, tolerância e inclusão”.
E lamentam que, “sem corar de vergonha, os nossos governos, de Espanha e Portugal”, não se coíbam de repeti-lo.
“Em que coesão social e cultural entre dois continentes pensam, quando duas democracias,
arduamente saídas de duas prolongadas ditaduras, se aliam a uma ditadura que perdura e
se afadiga na construção da sua impunidade?”, questionam.
As suas organizações lembram que Marrocos “mantém uma ocupação ilegal do território não-
autónomo do Sahara Ocidental desde 1975, apesar de todas as resoluções das Nações
Unidas que proclamam o princípio inalienável do direito à autodeterminação dos povos”. E que a guerra recomeçou neste território em novembro de 2020, justamente por falta de perspetivas de um acordo de paz. A CEAS e a AAPSO referem ainda as “execuções extra-judiciais, os raptos e
desaparecimentos forçados, as prisões arbitrárias e julgamentos ilegais, os cercos
prolongados a casas de famílias, a intimidação e a violência”, que “são o dia a dia dos saharauis
na sua terra ocupada, e também dos marroquinos que não desistem do seu país”.
Os coletivos recusam-se a ignorar as consequências dos conflitos que a comunidade internacional “finge que não existem”, bem como as políticas de “dois pesos e duas medidas”, e a “passadeira vermelha estendida aos regimes que cometem crimes sancionados pelo Direito Internacional”.
É com grande alegria que recebemos a notícia de que o Mundial de Futebol 2030 será organizado em conjunto por #Portugal, #Espanha e #Marrocos. Felicitamos a Federação Portuguesa de Futebol pelo empenho e trabalho desenvolvido.#FIFAWorldCup #FIFAWorldCup2030
— António Costa (@antoniocostapm) October 4, 2023
A CEAS e a AAPSO afirmam que não podem “olhar para o lado perante a falta de defesa dos Direitos Humanos e de coerência nas abordagens que, após anos e anos de incapacidade por parte da comunidade internacional, conduzem a conflitos armados como o que opõe a República Saharaui ao Reino de Marrocos, actualmente em guerra, e com a correspondente dor, sofrimento e morte”.
Nesse sentido, garantem que não deixarão de denunciar “não só as práticas ilegais e lesivas dos Direitos Humanos do Reino de Marrocos, mas também a cobertura que os governos dos nossos
países cinicamente lhes dão”.