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Mudanças climáticas podem aumentar gelo antártico

Num estudo que está a ser desenvolvido no continente gelado, cientistas descobriram que o crescimento da camada de gelo na Antártica também é uma consequência das mudanças climáticas. Artigo de Jéssica Lipinski do Instituto CarbonoBrasil.
Plataforma de gelo da Antártida – Foto de thetravelgirl/Flickr

Muitos céticos do clima costumam alegar que o aquecimento global é uma falácia devido ao facto de que a quantidade de gelo na Antártica está a aumentar, o que “compensaria” o degelo que está a ocorrer no Ártico. Mas num estudo que está a ser desenvolvido no continente gelado, cientistas descobriram que o crescimento da camada de gelo na Antártica também é uma consequência das mudanças climáticas.

Segundo os investigadores, esse aumento está a ocorrer porque as mudanças climáticas estão a causar alterações nos padrões eólicos da região, dificultando a saída de ar frio do continente. Além disso, variações na camada de ozónio na área também estão por trás do crescimento da camada de gelo.

“Parece absurdo, mas a Antártica também é parte do aquecimento”, explicou Ted Scambos, do Centro Nacional de Dados sobre Neve e Gelo do Colorado. “Um mundo mais quente pode ter consequências complexas e às vezes surpreendentes”, acrescentou Ted Maksym, do Instituto Oceanográfico de Woods Hole de Massachusetts.

No entanto, ao contrário do que justificam os céticos, esse aumento não está “compensando” o derretimento do gelo Ártico. Em primeiro lugar, pela própria questão da quantidade de gelo formada e derretida em cada região. Para se ter uma ideia, para cada quilómetro quadrado de gelo ganho na Antártica, quase seis quilómetros quadrados são perdidos no Ártico.

Há também a questão das consequências para a humanidade. Embora ambos os fenómenos afetem ecossistemas, o degelo no Ártico pode comprometer a população do Hemisfério Norte, causando impactos como um maior risco de extremos climáticos nos países do norte. Já na Antártica, por outro lado, não há consequências diretas para a população.

“Cientificamente, a mudança não é nem perto tão importante como o que vemos no Ártico. Mas isso não significa que não deveríamos dar atenção a isso e que não deveríamos estar falando sobre isso”, comentou Waleed Abdalati, especialista em gelo da NASA.

A recente descoberta coloca novo enfoque sobre o papel da Antártica para os estudos sobre mudanças climáticas. Outro grupo de investigadores está a desenvolver agora o primeiro mapa tridimensional da superfície de gelo da região, ajudando a entender o impacto das mudanças climáticas no continente.

“Podemos realmente obter uma imagem 3D completa do que estamos medindo. Isso nunca foi feito antes e é realmente emocionante”, observou Jan Lieser, glaciologista marinho, à Reuters.

Combinando dados de robôs submarinos sobre a espessura do gelo marinho com medições aéreas de gelo e neve, os cientistas podem agora medir precisamente as mudanças na espessura do gelo e entender melhor os efeitos do aquecimento global.

“A espessura do gelo é considerada pelos cientistas climáticos como o cálice sagrado para determinar mudanças no sistema. Se pudermos determinar a alteração na espessura do gelo marinho, poderemos estimar a taxa de variação determinada pelo aquecimento global”, concluiu Lieser.

Artigo de Jéssica Lipinski do Instituto CarbonoBrasil

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