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Morreu o economista Michel Husson

Militante anti-capitalista, Michel Husson morreu em França aos 72 anos. Autor prolífico de artigos de análise económica e política, recuperamos alguns dos principais artigos traduzidos e publicados pelo Esquerda.net.  
O portal hussonet.free.fr agrega várias publicações e artigos do economista traduzidas para diferentes línguas. Foto via Viento Sur.
O portal hussonet.free.fr agrega várias publicações e artigos do economista traduzidas para diferentes línguas. Foto via Viento Sur.

Nascido a 3 de abril de 1949, em Lyon, é como reação ao ensino da faculdade de Pathéon-Assas que “mergulha na cultura marxista da altura”, desenvolvendo depois os seus estudos de economia marxista através de André Gorz e Ernest Mandel.

“Aquilo que me agradou em Mandel, é que combinava a sua estrutura bastante ortodoxa com um marxismo abrangente, que não era a pura repetição do dogma na análise infinita dos textos de Marx”, disse em entrevista Savoir/Agir.

Começou depois a sua carreira de economista no INSEE, o instituto nacional de estatística e de estudos económicos de França, e depois no Ministério da Economia entre 1975 e 1984, num momento onde a direção das políticas públicas do ministério era “ambivalente”, devido a um “neo-classicismo que começou a suprimir o keynesianismo até então dominante”. Descreve este período do seu trabalho como “esquizofrénico” porque, no Ministério da Economia, “desenvolvia os modelos” e, na Critique de l’économie politique, “fazia a crítica destes modelos”.

A alteração de políticas económicas em França, que, para Michel Husson, já se fazia pressentir nos anos 70, tem um tiro de partida em 1981, quando o governo francês “se recusa desvalorizar [a moeda] por princípio”, algo que descreve como “uma primeira forma de submissão ao sistema financeiro internacional”. Logo de seguida, o governo “afirma a vontade de não utilizar as nacionalizações como uma alavanca política”.

É em 1982, reagindo a estas alterações, que a LCR - a que se juntara em 1979 – lança o «grupo de trabalho económico», através do qual desenvolve trabalho de análise e de formação internacionalista.

Michel Husson (1949-2021)

Francisco Louçã

Em 1985, é destacado para o INEGI, o instituto nacional de estatística do México, onde trabalha sobre o modelo económico daquele país. Em 1987, de volta a França, trabalha no serviço de estatísticas industriais do Ministério da Indústria, e depois, em 1990, no instituto de estudos económicos e sociais (IRES), com laços próximos aos sindicatos.

O tema do pleno emprego e a semana de trabalho de 35 horas, ideias que que já tinham feito parte do programa político de Miterrand em 1981 e 1985, voltam a marcar o debate público em 1993, com Michel Husson a defender, contra Alain Lipiez, a necessidade de “alterar a redistribuição do valor ajustado entre os salários e os lucros”.

A sua atividade política começa como militante do Parti Socialiste Unifié (PSU), e depois membro da Ligue communiste révolutionnaire (LCR) entre 1979 e 2007, tendo sido membro do comité central entre 1995 e 2000, de onde sai em desacordo para integrar a candidatura de José Bové às presidenciais de 2007.

 

Michel Husson

Michel Husson é autor de diversos artigos de análise económica e política, traduzidos e publicados pelo Esquerda.net, dos quais são exemplos recentes: O capitalismo no fio da navalha, Não basta medir as desigualdades, é preciso explicá-las, Economia política: depois da hibernação, ou ainda Para onde foi a social-democracia.

Numa entrevista recente, dirigida por Salvatore Cannavò para a Jacobin Italia, Michel Husson analisou o plano de Emmanuel Macron para a recuperação económica pós crise pandémica, considerando que este “revela uma incompreensão profunda sobre a natureza específica desta crise”.

A sua bibliografia, que não está traduzida em português, inclui Le grand bluff capitaliste (La Dispute, 2001), Les casseurs de l’État social (La Découverte, 2003), Travail flexible, salariés jetables (La Découverte, 2006), ou ainda Le capitalisme em 10 leçons. Petit cours illustrés hétérodoxe (Paris, Zones, 2012).  

A amplitude da sua obra está disponível em diversas línguas em  hussonet.free.fr, uma fonte documental rara composta por textos breves e pedagópgicos, mas também textos de análise em profundidade graças ao seu domínio das ferramentas de econometria.

Em 2011, Michel Husson veio a Portugal participar na Conferência Internacional "O euro e a crise da Dívida", organizada pelo Partido da Esquerda Europeia no Porto, ocasião onde o Esquerda.net entrevistou o economista sobre o tema. 

 

 

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