Esquerda

Morreu a economista luso-brasileira Maria da Conceição Tavares

08 de junho 2024 - 18:47

Economista, matemática e escritora, professora e deputada, o seu pensamento formou gerações da esquerda brasileira e o seu caráter destemido tornou-a viral para as novas gerações.

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Maria da Conceição Tavares.
Maria da Conceição Tavares em 2010. Foto de Antonio Cruz/ Agência Brasil.

Maria da Conceição Tavares tinha 94 anos e morreu este sábado em Nova Friburgo, no Rio de Janeiro. Economista, matemática e escritora, foi professora universitária na Universidade Estadual de Campinas e na Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Nasceu em Anadia, no distrito de Aveiro, a 24 de abril de 1930 e estudou matemática em Lisboa. Em 1954, escapou à ditadura salazarista e foi viver para o Brasil, o qual acreditava que “iria ser uma democracia e uma civilização original dos trópicos”, afirmou num documentário biográfico intitulado “Livre Pensar”. Adquiriu a cidadania brasileira três anos mais tarde e também aí enfrentou a ditadura, neste caso a ditadura militar, que a chegou a prender, corria o ano de 1974.

Como não conseguiu equivalência de diplomas, foi trabalhar com estatística no Instituto Nacional de Imigração e Colonização. E começou a cursar Economia. Em 1958, era já analista-matemática do Banco Nacional do Desenvolvimento Económico e Social, para o qual realizou um estudo matemático sobre distribuição do rendimento no país.

Politicamente, colaborou proximamente com o presidente Juscelino Kubitschek no planeamento económico, integrando o seu Conselho do Desenvolvimento. Depois de trabalhar no Chile, na Comissão Económica para a América Latina e Caraíbas e dando aulas, voltou ao país nos anos 80 onde foi militante do Movimento Democrático Brasileiro até 1989. A partir de 1994 tornou-se militante do Partido dos Trabalhadores no qual continuava. Entre 1995 e 1999 foi deputada federal por este partido criticando a política cambial e a destruição dos bens públicos. Depois do final do mandato não quis voltar a candidatar-se.

Foi uma das fundadoras do Centro Celso Furtado, um centro de estudos económicos próximo do PT. E, entre 1993 e 2004, escreveu a crónica Lições Contemporâneas para o jornal Folha de São Paulo. Foi uma crítica acérrima quer da política económica da ditadura quer do liberalismo de Fernando Henrique Cardoso. Especialista em políticas de desenvolvimento, defendia o modelo de substituição de importações.

@institutolula A economista e professora Maria da Conceição Tavares, sobre independência do Banco Central 🇧🇷💰 Via: @cafecomsociologia #mariadaconceiçãotavares #economista #bancocentral ♬ som original - Instituto Lula

 

@institutolula Perdemos hoje Maria da Conceição Tavares, economista brilhante e uma grande pensadora dos problemas sociais do Brasil. Seu legado de luta contra a desigualdade e por justiça social jamais morrerá! Obrigado por tanto, professora! 🎥: Roda Viva - TV Cultura #mariaconceicaotavares #rodaviva #economist #economy #luto #politics ♬ som original - Instituto Lula

O presidente brasileiro Lula da Silva reagiu à sua morte nas redes sociais escrevendo que “foi uma economista que nunca esqueceu a política e a defesa de um desenvolvimento econômico com justiça social” e que “até hoje suas aulas são consultadas pelos jovens em vídeos na internet, pela sua fala sempre franca e direta”.

Foi autora de vários livros como Da substituição de importações ao capitalismo financeiro (1972); Acumulação de capital e industrialização no Brasil (1986); Ciclo e crise: o movimento recente da industrialização brasileira (1998); Poder e dinheiro (1997); (Des)ajuste global e modernização conservadora (1993); "Uma reflexão sobre a natureza da inflação contemporânea", com Luiz Gonzaga Beluzzo (1986).