Na manhã de sexta-feira, Nestora Salgado, ex-comandante da Polícia Comunitária de Olinalá, saiu da prisão feminina de Tepepan, absolvida após dois anos e sete meses de encarceramento injusto.
Fardada no seu uniforme da Policia Comunitaria de Olinalá, do estado de Guerrero, no México, a “Comandanta”, como é carinhosamente chamada, agradeceu a todos os que durante essa longa e árdua jornada lutaram pela sua libertação e também pela dos outros presos políticos mexicanos: “A minha liberdade se deve a todos vocês. Foi um triunfo do povo. Uma triunfo da polícia comunitária.”
A absolvição de Nestora, sem ter sido condenada por nenhum delito, foi a prova final de uma prisão de cunho essencialmente político, ditada pela política de repressão do governo de Enrique Peña Nieto contra os movimentos sociais, como as polícias comunitárias ou as auto-defesas, que empunharam armas para defender os seus familiares das atrocidades cometidas pelos traficantes de drogas. A influência dos traficantes infiltrou todas as camadas do tecido social mexicano transformando mesmo o estado num narco-estado, como afirmam os mexicanos.
No México, apesar da libertação da “Comandanta”, que durante o cárcere protagonizou uma longa greve de fome exigindo a sua libertação e dos demais companheiros, continuam presos centenas de ativistas e lideranças populares, como Gonzalo Molina e o lendário Doutor Mireles, ex-líder das autodefesas que se formaram no sul do país.
No seu discurso em frente à prisão, Nestora manteve o tom combativo: “Unidos vamos conseguir tudo o que nos propusernos!”.
Dirigiu-se às mulheres exortando a continuar a luta: “Peço às mulheres que me deram apoio, que sigam dando a todos companheiros (presos).”
Emocionada, a “Comandanta”, que é também de origem indígena, mãe, avó, e uma das genuínas lideranças populares da luta latino-americana disse: “Não agradeço com o coração. Agradeço com a alma!”
Segundo Gleice Oliveira, do Comité Nestora Livre, do Brasil: “É importante agradecer neste momento a todos os companheiros e entidades que estiveram lutando conosco pela libertação de Nestora Salgado. Não só do Brasil, mas também companheiros de outros países como os portugueses do Bloco de Esquerda ou os socialistas chineses de Hong Kong, do grupo Alternativa Socialista, que deram o seu apoio imediato.
A luta pela libertação de Nestora Salgado não se chocou apenas contra o narco-estado mexicano. Infelizmente, chocou-se também com o sectarismo de correntes politicas de esquerda. Correntes que se auto-intitulam internacionalistas mas que, mesmo convidadas a ser solidárias a essa causa comum, se negaram, lamentavelmente, até mesmo a escrever uma simples nota de solidariedade, que é uma prática comum entre os trabalhadores de lutadores de todo mundo.
Com a libertação de Nestora continua a luta para tirar da prisão as centenas de ativistas encarcerados pelo narco-governo de Enrique Peña Nieto.