México: Lançada a Frente Nacional de Autodefesas

17 de maio 2014 - 12:14

Principal objetivo é lutar contra o narcotráfico, que controla a sociedade mexicana. Anúncio foi feito pelo poeta Javier Sicilia, e a frente contará com o principal líder do movimento de autodefesa, e também ativistas, advogados, padres e até ex-militares.

porTomi Mori

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O poeta Javier Sicilia. Foto de zapata.

Foi lançada, dia 13, a Frente Nacional de Autodefesas, através de um comunicado do poeta Javier Sicilia. A Frente, cujo objetivo principal é lutar contra o narcotráfico, que controla a sociedade mexicana, terá a participação de José Manuel Mireles, o principal líder do movimento de autodefesa, e também a de ativistas, advogados, padres e, também, ex-militares, como o general Gallardo, defensor dos direitos humanos.

A recém constituída FNA pretende fazer uma caravana nacional, nos próximos dias, para consciencializar a população da necessidade de se lutar contra o narcotráfico sob o lema: “Somos todos autodefesas”

A barbárie de uma sociedade controlada pelo narcotráfico

A recém constituída FNA pretende fazer uma caravana nacional, nos próximos dias, para consciencializar a população da necessidade de se lutar contra o narcotráfico.

A população vive sob um regime de medo, com tiroteios frequentes entre os diversos bandos de narcos. Assassinatos de populares, que aparecem com os corpos dilacerados, pendurados em árvores e postes. Violação de jovens e, inclusive, mulheres casadas que são levadas pelos narcos diante do olhar impotente dos seus próprios maridos. Em várias localidades, os narcos passaram a cobrar as chamadas quotas, obrigando a população a pagar se não quiser sofrer as represálias e as mortes. Desde o homem do talho aos estudantes, agricultores pequenos e grandes que cultivam o limão ou abacate e também criadores de gado e comerciantes, todos tem que pagar se quiserem continuar vivos. O estado mexicano é uma coisa ausente numa ampla área do país. O que domina é a impunidade. Desde 2008 foram assassinados 7 presidentes de câmara, mas, até hoje, ninguém foi preso por isso. As autodefesas há algumas semanas tinham prendido cerca de 30 bandidos, que entregaram às autoridades. No dia seguinte, a maioria já estava em liberdade permitida pelas “ordens” vindas de cima, demonstrando o vínculo existente entre as autoridades e o narcotráfico. Recentemente os meios de comunicação mostraram imagens de um campo de treinamento de traficantes, que existiu por um bom tempo sem que as autoridades o fossem incomodar.

Governo entrega armas aos traficantes

No último dia 10, o governo mexicano mostrou a sua verdadeira face. Armou uma verdadeira armadilha atacando o principal líder das autodefesas, o doutor Mireles. Foi um golpe orquestrado pelo comissário Castillo, do governo, que fez uma ofensiva para dividir o movimento de autodefesa, atacando violentamente Mireles e orquestrando a sua destituição do cargo de porta-voz das autodefesas.

O ataque não parou ai, acusando-o de ser o responsável pela morte de cinco autodefesas, episódio esse envolto em névoa, e de sofrer problemas mentais. O governo corrompeu um setor do movimento das autodefesas e criou uma polícia rural onde esse setor foi incorporado. Segundo denuncia anónima (para preservar a vida do denunciante), dia antes, vários dos atuais comandantes da nova polícia criada haviam se reunido com o traficante La Tuta, cabeça do cartel Cavaleiros Templários. O que mostra a política do governo de organizar uma nova polícia com homens diretamente ligados aos narcotraficantes, o que significou, na prática, entregar armas para os narcos.

Traficantes continuam soltos enquanto governo prende ativistas

Os narcotraficantes continuam a circular impunemente diante das autoridades, ao mesmo tempo que o governo continua a atacar os ativistas que se levantaram em armas para defender as suas vidas e as dos seus familiares, como é o caso de Nestora Salgado, uma jovem avó, comandante da polícia comunitária de Olinala, no estado de Guerrero, também no sul do México. Hipólito Mora, fundador das autodefesas do estado de Michoacan, no Sul do México, também estava detido mas foi libertado por falta de provas. Encontram-se nas grades do governo mais de uma centena de presos políticos, na sua maioria trabalhadores e camponeses pobres, pessoas sem recursos. Também no México, a criminalização dos protestos tem sido a arma do governo para tentar impedir as mobilizações.

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Tomi Mori