Marisa Matias ouviu as dificuldades dos estudantes internacionais

17 de novembro 2020 - 22:39

No encontro realizado esta terça-feira no Porto, houve queixas sobre exclusão de apoios, burocracia, condições de habitação e casos de xenofobia.

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Marisa Matias encontra-se com estudantes internacionais. Novembro de 2020. Foto de Ana Mendes.
Marisa Matias encontra-se com estudantes internacionais. Novembro de 2020. Foto de Ana Mendes.

Marisa Matias encontrou-se esta terça-feira com estudantes internacionais para ouvir os seus problemas em tempo de pandemia. Em resposta aos relatos, considerou que “infelizmente” estes não foram “surpresa nenhuma”. Partindo do princípio de que “não podemos excluir as pessoas dos seus direitos”, a candidata presidencial sublinhou que dar resposta a estes problemas, muitos deles “transversais a toda a comunidade imigrante” é “uma questão de democracia”.

Algumas das queixas ouvidas na sessão foram sobre a exclusão dos estudantes brasileiros dos apoios sociais. A este propósito, Marisa Matias declarou que “não passa pela cabeça de ninguém, num contexto de pandemia, não haver medidas de alcance social que também cheguem aos estudantes internacionais. Quem vem do Brasil, obviamente, com a desvalorização do real, está a passar momentos muito difíceis”.

Ouviram-se ainda críticas à disparidade de valores nas propinas que consideram “abusivas” e à burocracia, quer a das próprias universidades quer, por exemplo da segurança social: “temos de ter um número de segurança social para ter emprego, mas quem dá esse número é o primeiro empregador, mas para termos o primeiro emprego precisamos de um número da segurança social”, disse uma estudante.

Também houve denúncias de xenofobia. Anabelly Pontes, estudante do mestrado em Ciência Política da Universidade de Aveiro, considerou “inaceitável um docente, na sua posição de docente, fazer comentários xenófobos, dizer que 'vocês brasileiros, escrevem português muito mal'.” A estudante brasileira sugeriu que fosse criada uma campanha “para aumentar a divulgação dos canais de denúncia”.

A mesma estudante colocou em causa as condições de alojamento. O alojamento para os estudantes internacionais é caro e os pedidos para baixar o preço, devido às dificuldades económicas, foram recusados. Agora, “em tempos de pandemia”, há situações em que 16 pessoas dividem um frigorífico ou 33 uma cozinha, denunciou. Para “os serviços de ação social, os estudantes internacionais são vistos como mercadoria, no momento em que a gente precisou de alguma atenção em relação ao momento em que vivemos, fomos totalmente desprezados,” lamentou.

Não deixar mesmo ninguém para trás

Luís Monteiro, que tem acompanhado estas questões no seu mandato de deputado, também esteve presente no encontro. Salientou o caso dos estudantes brasileiros que “são tratados realmente como mercadoria e ainda levam com tudo de mau” como “comentários xenófobos e racistas” e discriminação. A este propósito lembrou a notícia recente do mestrado em Direito da Universidade de Coimbra que “aceita todos os estudantes com média de 13, menos os brasileiros, que têm de ter média de 16”. Recordou ainda o caso de uma praxe de uma faculdade pública, na qual “a direção calou-se perante uma pedra que foi dada aos “caloiros” para acertar no estudante brasileiro que lhes passou à frente no mestrado”.

O deputado do Bloco de Esquerda elogiou a campanha de Marisa Matias porque quando diz “não deixar ninguém para trás”, não fala só nos portugueses: “quem está cá tem de ter o apoio do Estado português”. Confessou ainda “alguma tristeza” por “não haver uma única força política que fale dos estudantes internacionais, apenas nós.”