Ferrovia

Maquinistas marcam greve para defender dignidade contra Leitão Amaro

20 de novembro 2024 - 14:38

Maquinistas marcam freve para dia 6 de janeiro. Para além das reivindicações laborais, trabalhadores querem alertar para a correlação falsa feita pelo ministro da Presidência entre acidentes e alcoolização, e defender a "dignidade e honra dos maquinistas".

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Ministro da Presidência, Leitão Amaro
Ministro da Presidência, Leitão Amaro. Fotografia de Grupo Parlamentar do Partido Social Democrata/Flickr

Foi avançado esta quarta-feira um pré-aviso de greve geral pelo Sindicato Nacional dos Maquinistas dos Caminhos de Ferro (SMAQ) para o dia 6 de dezembro. Para além das reivindicações laborais, a greve tem como objetivo defender a “honra dos maquinistas” contra as declarações do ministro da Presidência.

Lembre-se que Leitão Amaro admitiu, na passada quinta-feira, que Portugal “tem o segundo pior desempenho ao nível do número, por quilómetro de ferrovia, de acidentes que ocorrem” mas, para resolver a situação, a única medida que avançou foi uma proibição de condução sob efeito de álcool, sugerindo indiretamente que os acidentes eram causados por maquinistas alcoolizados.

Por isso, o SMAQ avança com a greve “em defesa da segurança ferroviária, da dignidade e honra dos maquinistas, e da justa valorização do seu trabalho”, segundo comunicado do sindicato. A paralisação deverá ter impactos na véspera de dia 6 e no dia seguinte também, abrangendo serviços da CP, IP, Fertagus, Metro Sul do Tejo, ViaPorto, Captrain e Medway.

Já em reação imediata às declarações do ministro da Presidência, o SMAQ tinha enviado um ofício ao ministro para demonstrar a sua “profunda indignação” em relação à correlação criada entre os acidentes e a alcoolização dos maquinistas, que denunciou como “falsas, inaceitáveis e profundamente desrespeitosas”.

Apesar de terem pedido ao ministro para clarificar e retificar publicamente as suas declarações, a resposta ao sindicato foi apenas silêncio. “Este silêncio agrava o desrespeito pela classe dos maquinistas, uma das mais rigorosamente escrutinadas em termos médicos, psicológicos e operacionais”, diz o SMAQ no comunicado da greve.

Na base da alta taxa de acidentes estão, no entanto, problemas estruturais das infraestruturas ferroviárias nacionais. O sindicato avança por isso, com várias reivindicações, desde o encerramento das passagens de nível mais perigosas, que serão responsáveis por 38% dos acidentes significativos registados, até à renovação adequada de infraestruturas e de redimensionamento das estações.

Entre outras causas de descarrilamentos, que o SMAQ tem combatido, estão a queda de pedras e barreiras na Linha do Douro, a degradação da Linha do Vouga, o material circulante obsoleto ainda em funcionamento “incluindo composições com mais de 70 anos na CP”, as falhas nas telecomunicações, a ausência de mecanismos de proteção automática e as falhas frequentes na sinalização do Metro Sul do Tejo. Todos estes problemas sem resposta governamental.