Ferrovia

Maquinistas indignados com insinuações do ministro sobre consumo de álcool e acidentes

15 de novembro 2024 - 11:44

Em conferência de imprensa, Leitão Amaro falava nos números de acidentes ferroviários no país e decidiu trazer à baila o consumo de álcool dos maquinistas. O sindicato reagiu exigindo a sua demissão e notando que os estudos desmentem a existência de qualquer relação.

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Leitão Amaro na conferência de imprensa.
Leitão Amaro na conferência de imprensa. Foto de António Cotrim/Lusa.

Na conferência de imprensa que se seguiu ao Conselho de Ministros desta quinta-feira, o ministro da Presidência, Leitão Amaro, anunciou a aprovação de um decreto para reforçar medidas de contraordenação dos maquinistas de comboios, afirmando que se iria criar “uma proibição de condução sob o efeito de álcool”, acrescentando que “Portugal tem o segundo pior desempenho ao nível do número por quilómetro de ferrovia de acidentes que ocorrem” e que o quadro sancionatório “é o mais leve e mais baixo da Europa”.

A ligação entre consumo de álcool dos maquinistas e acidentes ferroviários não faz parte dos relatórios de segurança ferroviária do país e esta associação indignou o Sindicato dos Maquinistas dos Caminhos de Ferro Portugueses que reagiu enviando um ofício ao governante considerando a ligação “absurda, infundada e despropositada, entre as taxas limite de alcoolemia aplicadas aos Maquinistas e o mau desempenho de Portugal nos índices de segurança ferroviária europeus”.

O SMAQ fala num “profunda indignação” e diz que as declarações “demonstram uma flagrante falta de conhecimento dos Relatórios Anuais de Segurança do IMT, os quais evidenciam que os fatores que afetam a classificação do nosso país têm, na sua maioria, origem em questões da infraestrutura ferroviária, suicídios, em que o maquinista não deixa de ser também vítima, acidentes em Passagens de Nível, bem como fatores extrínsecos ao trabalho dos maquinistas”.

Afirma-se ainda que “não existe, de facto, nenhum acidente ferroviário que tenha sido causado por álcool”. E, sobre as medidas anunciadas, acrescenta-se que a taxa de álcool atual, estabelecida em 0,20 g/l, “já é uma medida extremamente rigorosa e preventiva” e que “os maquinistas são sujeitos a exames médicos, psicológicos e psicomotores periódicos, bem como a testes de despistagem frequentes, o que evidencia o escrutínio constante a que a nossa classe está sujeita”.

Face ao desrespeito com a sua classe profissional solicita-se que o ministro “se retrate publicamente e corrija as suas declarações” e realça-se que “seria mais adequado considerar as causas reais que afetam a segurança no setor, nomeadamente as deficiências da infraestrutura ferroviária, que são amplamente reconhecidas e documentadas”.

À Renascença, o presidente deste sindicato reforça a mensagem pedindo a demissão de António Leitão Amaro porque “um ministro ignorante é um ministro perigoso”.

António Domingues considera as afirmações “insultuosas” e acusa-o de não conhecer os relatórios. O último disponível, o Relatório Anual de Segurança Ferroviária de 2023, dá conta de 34 acidentes significativos nesse ano, abaixo da média dos últimos dez anos, não contendo nenhuma referência ao consumo de álcool pelos maquinistas.

Fabian Figueiredo, nas suas redes sociais, comentou como António Leitão Amaro “no seu já habitual trumpismo” fez este comentário.

Para o líder parlamentar bloquista, ou “ou ministro da Presidência ou tem dados novos, que deve divulgar, ou mentiu, o que não espantaria ninguém”. E se mentiu “deve um pedido de desculpas ao maquinistas, que insultou, e aos portugueses, a quem faltou à verdade”.