Cerca de sete mil pessoas responderam ao apelo do Vox e outros grupos da extrema-direita espanhola para se concentrarem esta terça-feira ao inicio da noite em frente à sede do PSOE em Madrid, com o objetivo de contestar a proposta de amnistia para os envolvidos na realização do referendo à independência da Catalunha em 2017.
Na noite de segunda-feira já tinham existido confrontos com a polícia, mas a violência subiu de tom na terça-feira, com trinta polícias e dez manifestantes feridos e a detenção de sete participantes no protesto. Durante o protesto, além da simbologia neonazi envergada por muitos dos presentes, ouviram-se vivas a Franco, cantou-se o hino falangista "Cara al Sol" e repetiram-se palavras de ordem homofóbicas contra o ministro do Interior Grande-Marlaska e outras contra a comunidade muçulmana.
A violência foi aumentando com o passar das horas, com vários jornalistas insultados e agredidos, contentores queimados e o arremesso de petardos, garrafas e outros objetos contra a polícia.
NO es un ataque al PSOE.
NO es un ataque a Pedro Sánchez.ES un ataque a la democracia. pic.twitter.com/HSa5iRO7iJ
— PSOE (@PSOE) November 7, 2023
Além do apoio declarado do Vox, cuja organização juvenil estava na primeira linha dos confrontos, e de grupos da extrema-direita como o Desokupa, cujo líder levou o seu bloco de manifestantes a cortar a Gran Via, tentando chegar sem sucesso ao Congresso de Deputados, o líder do PP começou por recusar-se a condenar a violência destes manifestantes, atribuindo a responsabilidade pelo "mal-estar social" ao primeiro-ministro Pedro Sánchez. Já esta quarta-feira, condenou genericamente todos os atos de violência, voltando a responsabilizar o líder socialista.
"Não esperamos nada dos que por ação ou omissão apoiam o assédio às casas do povo socialistas. O seu silêncio retrata-os. O avanço social e a convivência valem a pena. Não irão quebrar o PSOE", afirmou Pedro Sánchez nas redes sociais, referindo-se aos protestos junto à sede do partido em Madrid mas também noutras cidades como Barcelona, Murcia, Málaga, Valência, Logroño, Albacete, Ciudad Real e Toledo, onde ao contrário da capital espanhola não se registaram incidentes.
Negociações do PSOE com partido de Puigdemont prosseguem em Bruxelas
Desde o exílio em Bruxelas e com ironia, o ex-líder do governo catalão Carles Puigdemont perguntou esta quarta-feira nas redes sociais: "Depois do que se está a passar em Madrid, a que horas vem o rei fazer a mensagem a ordenar "vamos a eles"? Ou será que está "com eles"?". Puigdemont refere-se à mensagem de Felipe VI na sequência do referendo de 1 de outubro de 2017 e ao paralelismo que é feito entre estas manifestações da extrema-direita e as que agitaram Barcelona na sequência da repressão aos participantes naquela consulta.
Entretanto, prosseguem as negociações entre o partido de Puigdemont, o Junts, e os socialistas para a viabilização de um futuro governo. A formulação concreta e o âmbito da amnistia estão em cima da mesa, com o Junts a querer incluir a definição de um conceito amplo de "lawfare", ou guerra suja judicial, que poderia abranger casos como da sua ex-presidente Laura Borràs num caso de faturas falsas, ou do advogado de puigdemont Gonzalo Boye, investigado por branqueamento de capitais de uma rede de narcotráfico. Em ambos os casos, o Junts considera tratar-se de "lawfare", enquanto o PSOE defende que a lei tem de ser feita de forma a estar blindada face aos prováveis recursos da direita para a derrubar no Tribunal Constitucional.
As delegações dos dois partidos continuam a negociar em Bruxelas e aguarda-se que haja fumo branco nos próximos dias, o que tornaria possível a sessão de investidura na próxima semana. Mas os socialistas dizem não ter pressa, lembrando que o prazo para alcançar o acordo e a investidura só termina a 27 de novembro. Se o governo liderado por Pedro Sánchez não for escolhido nesse dia, Espanha terá novas eleições a 14 de janeiro.