Mais Pobreza em Portugal

18 de novembro 2012 - 19:34

As estatísticas oficiais da pobreza apresentam dados abaixo da realidade. Um investigador diz que, em relação a 2010, é preciso juntar mais 160 mil pessoas aos 1,8 milhões apresentados nas estatísticas mais conhecidas. 19,6% da população viveria abaixo da pobreza e não 18%.

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O jornal “Público” fez um destaque sobre a pobreza em Portugal, neste domingo. Para esse trabalho, o jornal entrevistou diversas pessoas, entre as quais os investigadores Carlos Farinha Rodrigues e José Pereirinha do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG).

Carlos Farinha Rodrigues fez os cálculos do número de pessoas que viviam abaixo do limiar da pobreza em Portugal e chegou à conclusão que esse número é superior em 160 mil pessoas aos 1,8 milhões apontados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), o que significará 19,6% da população e não 18%

A diferença de cálculos é que as estatísticas oficiais calculam a linha de pobreza em função do rendimento nacional, ora se o rendimento nacional baixar a linha baixa também, algumas pessoas continuam a ser pobres, mas deixam de estar abaixo daquele linha, por aquela forma de calcular. Aqueles investigadores do ISEG usam então uma “linha de pobreza ancorada no tempo”, também usada pelo Eurostat, que tem em conta o montante da linha de pobreza de um determinado ano e a sua evolução. Assim, tendo por base 2009, o limiar de pobreza era de 434 euros, o que atualizando com a inflação dá 440 euros em 2010, valor superior ao limiar de 421 euros das estatísticas oficiais. Por isso, o número de pobres é bem superior.

Os investigadores dizem que é impossível saber com exatidão quantas pessoas estarão a viver este ano com menos de 469 euros (a linha de pobreza ancorada no tempo para 2012), ou quantos irão viver abaixo do limiar em 2013.

Contudo, os cortes nas prestações que têm vindo a atingir drasticamente as pessoas mais vulnerabilizadas fazem prever que a pobreza esteja a crescer imenso. O jornal lembra que a taxa de cobertura do subsídio de desemprego desceu, entre 2005 e 2012, de 37% para 33%, enquanto o desemprego subiu de 7,7% para 15,8% nas estatísticas oficiais, muito abaixo da realidade. A pensão por velhice teve uma queda de 43 euros entre 2009 e agosto de 2012 e o complementos solidário para idosos vai sofrer um corte orçamental de 11,2% em 2013. O RSI também sofre redução, de 6% para o valor máximo da prestação, que passará de 189,5/mês para 178,15 euros.

Carlos Farinha Rodrigues critica: “Estamos a reduzir as políticas sociais de combate à pobreza e à exclusão social no momento em que elas são mais necessárias.”

Jorge Pereirinha afirma: “Assistimos a cortes nas prestações sociais mais dirigidas a pobres e a um investimento em cantinas sociais. Na minha opinião, a opção nunca pode ser fornecer géneros em vez de dinheiro”.

Até Bagão Félix diz, em relação às reduções das prestações sociais: “Trata-se de uma questão de trocos do ponto de vista macro, mas para as pessoas é muito relevante. Pequenas reduções nas prestações não é uma medida adequada num momento em que está a aumentar o índice de pobreza.”