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Maduro diz que China apoia Plano Económico do seu governo

O presidente da Venezuela visitou a China e, no seu regresso, escreveu no twitter que “o plano de recuperação económica” conta com o apoio chinês. Foram assinados 28 acordos de “cooperação estratégica” entre os dois países e a China terá emprestado 5 mil milhões de dólares à Venezuela.
Nicolás Maduro à chegada da sua visita à China
Nicolás Maduro à chegada da sua visita à China

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, visitou a China entre 12 e 17 de setembro e reuniu com autoridades do setor financeiro chinês e com o presidente da República Popular da China, Xi Jinping. Durante a sua estadia, foram assinados 28 acordos de cooperação estratégica entre os dois países, nomeadamente nas áreas de petróleo, energia, mineração, ouro, ferro, tecnologia, educação e cultura, segundo a agência venezuelana de notícias (AVN). A agência salienta também que o presidente da República esteve presente no Fórum de Negócios China-Venezuela, que juntou 124 empresas chinesas e 49 venezuelanas, onde reafirmou o compromisso de “promover e proteger” os investimentos chineses na Venezuela, assim como impulsionar “alianças económicas” entre setores empresariais de ambas as nações.

No seu regresso, na madrugada desta segunda-feira de acordo com a Telesur, Maduro escreveu no twitter: “o plano de recuperação económica conta com o apoio decidido do nosso irmão mais velho”.

Empréstimo de 5.000 milhões de dólares

Em declarações à Bloomberg, Simón Zerpa, ministro das Finanças da Venezuela, anunciou que a China concedeu um empréstimo de 5.000 milhões de dólares à Venezuela, que esta pagará em dinheiro e em petróleo. Zerpa anunciou também uma “aliança estratégica na mineração de ouro”.

A concessão do empréstimo parece ser essencial para o país latino-americano aliviar o estrangulamento financeiro. A agência refere que, na semana anterior, conselheiros chineses estiveram na Venezuela para avaliar a situação e reformar os controles cambiais.

Segundo Asdrubal Oliveros da Ecoanalítica, com este empréstimo a dívida da Venezuela à China subirá para 28.000 milhões de dólares.

Explorar o "enorme tesouro"

A visita de Nicolás Maduro foi antecipada pela da vice-presidente da Venezuela, Delcy Rodriguez, que foi acompanhada pelo ministro do Petróleo e presidente da Petróleos da Venezuela (Pdvsa), major-general Manuel Quevedo, os quais reuniram com o presidente da Corporação Nacional de Petróleo da China (CNPC), Zhang Jainhua, e prestaram declarações à comunicação social.

Nicolás Maduro com o presidente da China, Xi Jinping
Nicolás Maduro com o presidente da China, Xi Jinping

Segundo Efecto Cocuyo, Quevedo destacou no encontro os êxitos da empresa mista Sinovensa e o seu contributo essencial para ser alcançado o objetivo do governo venezuelano de aumentar a produção de petróleo em um milhão de barris por dia. O ministro salientou ainda os objetivos de avançar em acordos de exploração de gás e de expansão das operações da China em solo venezuelano, sublinhando que a Venezuela “tem uma reserva de mais de 200 milhões de pés cúbicos de gás disponíveis para explorar, o que representa uma oportunidade para ambos os países”. Zhang Jianhua concordou com os objetivos do governo venezuelano, afirmando que sendo a Venezuela o país com maiores reservas de petróleo bruto do mundo, ambos os países “sentem-se no dever de explorar esse enorme tesouro que se encontra no subsolo”.

Venda de ações à China para pagar dívida

De entre os 28 acordos assinados, um deles estabelece que a empresa Pdvsa paga parte da sua dívida através da venda de ações à CNPC. Assim, segundo a Petroguia (petroguia.com), a participação da Pdvsa na empresa mista de petróleos Sinovensa diminuirá de 64,25% para 54,35%, aumentando a percentagem da CNPC de 35,75% para 45,65%. A empresa mista Sinovensa opera no campo de Carabobo da Faixa do Orinoco, na Venezuela.

Esta será a segunda vez que a Pdvsa reduz a sua participação em empresas mistas. Em 2016, vendeu a sua participação na Petromongas à empresa russa Rosneft1.

300 novos poços, exploração de gás e ouro

Outro dos acordos assinados pela Pdvsa estabelece a perfuração de 300 novos poços na Divisão Ayacucho, a avaliação da empresa mista Petrourica e um acordo de financiamento da empresa mista Petrozumano entre a Pdvsa e a CNPC. Estas empresas mistas, Petrourica e Petrozumano, foram constituídas em 2016, entre a Venezuela, através da Pdvsa, e a China, através da CNPC.

Outros dois importantes acordos assinados, visam a exploração de gás e de ouro na Venezuela. Para o gás, o acordo é entre a CNODC (China National Oil and Gas Exploration and Development Corporation) e a Pdvsa. Para o ouro, o acordo é entre o Estado venezuelano e a empresa estatal de mineração chinesa Yankuang Group.

3 acordos com a ZTE

Três dos 28 acordos envolvem a ZTE2, que é uma empresa de telecomunicações chinesa: dois acordos entre a ZTE e a CANTV (companhia anónima nacional de telefones da Venezuela) sobre a “segunda fase do sistema de pagamento eletrónico” e sobre a ampliação das redes e ainda um acordo entre a ZTE e o ministério da Saúde.

Maduro acordou também a integração da Venezuela nas “Novas Rotas da Seda”, o projeto global de investimento em infraestruturas da China, a que também aderiu o Uruguai.

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A visita de Maduro à China pode ter aliviado as dificuldades económicas e financeiras que o país da América Latina vive, agravadas pelas sanções norte-americanas, e reforçou a ligação entre os governos dos dois países. Em contrapartida, a Venezuela aumenta a exploração das suas riquezas naturais, entrega parte importante dessa exploração ao gigante asiático e agrava a sua dependência. Além disso, e sobretudo, esta opção é a continuação e o aprofundamento do modelo extrativista e rentista que levou a Venezuela à grave crise que tem vivido.

Artigo de Carlos Santos, para esquerda.net


Notas:

1 Rosneft é a terceira maior empresa russa e é maioritariamente detida pelo governo russo, diretamente ou através da Gazprom (ver wikipedia).

2 ZTE, empresa chinesa de equipamento de telecomunicações, telemóveis e redes (ver ZTE em wikipedia)

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Editor do esquerda.net Ativista do Bloco de Esquerda.
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