Lusa em greve contra “corte cego” do seu orçamento

17 de outubro 2012 - 16:35

Sofia Branco, do Conselho de Redação, disse ao Esquerda.net que a degradação dos serviços da agência noticiosa tem graves repercussões na própria democracia: “A Lusa é um serviço público, tal como a RTP, e faz falta ao país”. Paralisação durará 4 dias e haverá muitas vigílias, concentrações e ações de sensibilização da população.

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"A degradação do serviço da Lusa tem graves repercussões na própria democracia”, diz Sofia Branco. Foto de Pedro Khron

Os trabalhadores da Lusa – na sua maioria jornalistas, mas também administrativos e gráficos – iniciam esta quinta-feira uma greve de quatro dias contra o corte de 30% no contrato-programa do Estado com esta agência de notícias. “Esta greve foi pensada de forma a mostrar a falta que faz o trabalho da Lusa a todos os órgãos de comunicação social, sejam jornais, sites noticiosos, televisões e rádios”, disse ao Esquerda.net Sofia Branco, do Conselho de Redação. “A ideia de prolongar a greve para o fim de semana foi justamente pôr em evidência a importância que o nosso trabalho tem na informação veiculada sábado e domingo, e também nas informações publicadas nos jornais de segunda-feira”, explicou a jornalista.

Por outro lado, os quase 300 trabalhadores da agência não querem dar a impressão que estão a entrar num fim de semana prolongado. “Por isso, haverá muitas atividades durante os dias de greve: vigílias, concentrações, ações de sensibilização dirigidas à população.” Na sexta-feira, os trabalhadores da Lusa – e jornalistas de outros meios – vão solidarizar-se com os colegas do Público, em greve também nesse dia; às 13 horas, a situação inverte-se e a concentração desloca-se para a frente da sede da Lusa. Sofia Branco conta com uma grande mobilização dos colegas da agência, e sublinha que a greve foi aprovada em plenário de trabalhadores, com a participação dos colegas do Porto por videoconferência, e teve apenas 2 ou 3 votos contra.

Lusa é serviço público

Sofia Branco sublinhou que os trabalhadores esperam obter um recuo do corte cego anunciado pelo governo, que vai inviabilizar a qualidade do trabalho desenvolvido pela Lusa. “É que a Lusa não é uma empresa como outra qualquer. É, tal como a RTP, um serviço público. Isto quer dizer que a degradação do serviço da agência tem graves repercussões na própria democracia.” A Lusa, explicou a jornalista, assegura uma cobertura noticiosa global, que nenhum outro meio nacional assegura, e é assim um garante da pluralidade e da democracia em Portugal, garantindo a diversidade da informação. Garante a informação dos acontecimentos ocorridos em regiões do interior do país, e também de eventos mais diversos e que sem a Lusa passariam despercebidos. “Qualquer grupo de cidadãos sabe que pode telefonar para a Lusa a dar-nos uma informação, com a certeza de que nós iremos no mínimo confirmá-la e fazer a reportagem, se o acontecimento o justificar.”

A porta-voz do Conselho de Redação enfatizou ainda que a Lusa é um ativo estratégico do país, porque promove o Estado português e a língua portuguesa no mundo e nos Palop. “Não há, nestes países, uma agência semelhante à Lusa, com esta lógica de serviço público”, disse Sofia Branco.

Programa de rescisões

Os organismos representativos dos trabalhadores receberam muito mal a notícia de que o Conselho de Administração da agência aprovou um programa de rescisões por mútuo acordo, com prazo até 31 de Outubro.

“Estávamos na Assembleia da República quando recebemos essa notícia”, recorda a porta-voz do Conselho de Redação. Representantes da CT, do CR e dos delegados sindicais passaram umas cinco horas em S. Bento em reuniões com a presidente da AR, com os partidos políticos, a Comissão de Ética. “Só o PSD não nos recebeu naquele dia”, disse Sofia Branco, que sublinhou ter encontrado grande recetividade por parte dos grupos parlamentares, incluindo o do CDS, que afirmou que o grupo parlamentar está unido quanto à necessidade de haver margem negocial em relação ao corte de 30% do contrato com a Lusa.

Recorde-se que o Bloco de Esquerda assegurou que vai propor a manutenção dos atuais níveis de financiamento, que considera baixos. "Numa altura em que os órgãos de comunicação social privados estão todos a despedir jornalistas e a fechar títulos, uma agência noticiosa mais frágil significa que vamos ficar sem pluralidade na comunicação social em Portugal", disse a deputada Catarina Martins. Para o Bloco, nenhum país, nenhuma democracia sobrevive sem uma agência noticiosa. “É um imperativo da democracia manter o serviço da Lusa e, mesmo do ponto de vista económico, é imprescindível haver uma agência de notícias".

Calendário de atividades durante a greve

Dia 18, quinta-feira

Vigília junto da Presidência do Conselho de Ministros, a partir das 11h.

Concentração à porta da delegação da Lusa no Porto a partir das 10h, com a presença do presidente do sindicato dos jornalistas, Alfredo Maia.

Dia 19, sexta-feira

Vigília junto à porta lateral do Parlamento às 09h30.

Deslocação às 11h00 do Parlamento para o jornal Público (Rua Viriato 13, metro Picoas), também em greve neste dia, no âmbito de uma ação convocada por jornalistas de diversos meios de comunicação social, em solidariedade com os jornalistas do Público e da Lusa. Esta mesma ação deslocar-se-á à sede da Agência Lusa, por volta das 13h.

Dia 20, sábado

Ação de sensibilização junto ao café A Brasileira, à saída do metro da Baixa-Chiado, às 12h.

Dia 21, domingo

Ações de sensibilização feitas por diversos piquetes de greve junto dos restantes órgãos de comunicação social, clientes dos serviços da Agência Lusa.

Dia 22, segunda-feira

Conferência de imprensa, às 11h, nas instalações do Sindicato dos Jornalistas, em Lisboa, com os representantes dos órgãos representativos dos trabalhadores.

Em todas as ações serão levadas faixas, bandeiras e outros cartazes, aconselhando-se ainda a que os manifestantes estejam vestidos de preto ou usem coletes refletores e que usem logótipos da Lusa na roupa.

Petição

Já está online também uma petição Em Defesa da Agência de Notícias Lusa que pode ser subscrita por qualquer cidadão, contando já com quase 2000 assinaturas (na tarde de quarta-feira).