Todos os anos, várias figuras proeminentes da cidade são homenageadas. No ano em que se festejam os 50 anos da Revolução dos Cravos, foi a vez de assinalar o papel ímpar que Jorge Carvalho, o último preso político a sair da PIDE/DGS na rua do Heroísmo (já no dia 26 de abril), teve no combate ao fascismo e na construção do país livre e democrático, saído de Abril de 1974. A cerimónia de entrega da medalha ao ex-preso político aconteceu nos Jardins da Casa do Roseiral.
António Jorge Mendes Carvalho, nasceu em Matosinhos em 1947. Ainda jovem, fez parte do MJT - Movimento da Juventude Trabalhadora e do MOJAF - Movimento Juvenil de Ajuda Fraterna que nos anos 60 impulsionou a construção de casas para famílias carenciadas. Militante comunista, participou ativamente nas lutas populares na cidade do Porto contra a carestia de vida e a guerra colonial e nas movimentações da oposição democrática contra o regime fascista. Preso pela PIDE/DGS no 1º de Maio de 1971 por “atividades contra a segurança do Estado”, foi condenado pelo tribunal plenário do Porto em julho de 1972 na suspensão de direitos políticos por três anos. Detido novamente em 5 de abril de 1974, foi o último preso político a ser libertado das instalações da PIDE/DGS na rua do Heroísmo após a madrugada libertadora do 25 de Abril de 1974. Durante as suas duas passagens pela PIDE, foi alvo de inquéritos acompanhados de violência física e psicológica, sofreu tortura do sono e, por várias vezes, foi espancado.
As sequelas da brutalidade da polícia política do salazarismo ainda permanecem hoje no seu corpo e na sua memória. Em entrevista ao Porto Canal, por ocasião da entrega da medalha, Jorge Carvalho teve oportunidade de revisitar a cela onde esteve preso e, aí, partilhar algumas das suas más memórias daquele lugar. “Era cliente assíduo” (da PIDE no Porto), disse, em jeito de brincadeira, de forma a aliviar o peso dos momentos difíceis que ali viveu.
Nos últimos anos, tem pautado a sua intervenção, entre outras atividades políticas e associativas, na defesa da criação de um Museu da Resistência e Liberdade nas antigas instalações da PIDE/DGS, na Rua do Heroísmo, onde ele e milhares de outros opositores à ditadura foram detidos, presos, interrogados, torturados e até assassinados. Em 2019, participou na curta-metragem “Museu da Vergonha”, da autoria partilhada entre José Machado Castro e Luís Monteiro, que reúne vozes em defesa desse projeto museológico. O seu testemunho pode ser visto na íntegra aqui:
Museu da Vergonha - Testemunho do Pisco, o último preso político a sair da PIDE do Porto from Cat David on Vimeo.
A memória coletiva do povo portuense na defesa de um país livre, democrático, mais justo e solidário encontra, na figura e na história de vida de Jorge Carvalho, um exemplo de persistência e dedicação.