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Itália: Salvini quer derrubar o governo e conquistar o poder com novas eleições

A Liga Norte de Matteo Salvini anunciou uma moção de censura ao governo de que faz parte para forçar novas eleições. Se conseguir, a Itália pode tornar-se o primeiro "grande" da Europa com a extrema-direita a liderar um governo.
Sessão parlamentar de juramento do presidente italiano Sergio Matarella, fevereiro de 2015. Foto: Presidenza della Repubblica/Wikimedia Commons.
Sessão parlamentar de juramento do presidente italiano Sergio Matarella, fevereiro de 2015. Foto: Presidenza della Repubblica/Wikimedia Commons.

A Liga Norte de Matteo Salvini vai apresentar uma moção de censura para fazer cair o governo de Giuseppe Conte, de que faz parte em coligação com o movimento Cinco Estrelas. A confirmar-se o cenário de novas eleições e a vantagem da Liga Norte nas sondagens, a Itália pode tornar-se dentro de pouco tempo o primeiro país do "núcleo duro" europeu com a extrema-direita a liderar um governo.

O motivo imediato para forçar a queda do governo é a divergência sobre a construção de uma linha de comboio de alta-velocidade entre Turim e Lyon, na França. O Movimento 5 Estrelas (M5S), do vice-primeiro-ministros Luigi di Maio, opõe-se e apresentou no parlamento uma proposta para romper o tratado assinado com França e abandonar o projeto, que foi rejeitada esta quarta-feira pela Liga Norte e toda a oposição. De seguida, a Liga queixou-se das divergências crescentes com o seu parceiro de coligação e afirmou que o país precisa de voltar a votos rapidamente. Esta sexta-feira, anunciou a moção de censura.

Mas o motivo de fundo para a manobra, tudo indica, são as sondagens que colocam a Liga Norte destacada na dianteira e lhe dão todas as hipóteses de liderar um governo. De um equilíbrio de forças há um ano atrás entre Liga e M5S, a experiência de governo parece ter beneficiado a Liga a expensas do M5S. Uma sondagem do instituto Ipsos para o Corriere della Sera publicada esta quinta-feira dava à Liga 36% dos votos se houvesse eleições, contra 18% para o M5S. Juntado-se os números da Liga aos cerca de 7% estimados para o Forza Itália de Silvio Berlusconi e também para o Irmãos de Itália, outro partido de extrema-direita, a direita junta perfaz 50,6% dos votos. Com uma diferença fundamental: agora é a extrema-direita quem domina no seu interior. Com estes dados, que consolidam uma tendência que já vem de trás, Salvini tem todo o interesse em forçar eleições.

Para já, tudo se jogará entre parlamento e presidência da república, e o desfecho não é certo num país habituado a surpresas políticas. Como o parlamento entretanto entrou de férias, Salvini exigiu aos parlamentares que as suspendam e regressem a Roma para que o primeiro-ministro Giuseppe Conte constate a sua falta de apoio no hemiciclo e se demita, de forma a que o presidente Sérgio Matarella convoque novas eleições. Mas Conte, um independente, reagiu em comunicado afirmando que Salvini não dita a agenda parlamentar nem "os passos da crise política", condenou-o por oportunismo e quer ir ao parlamento pedir explicações.

A nível parlamentar, deve ser marcada reunião extraordinária dos líderes partidários nos próximos dias para agendar a votação da moção de censura, que se calcula fique para 20 de agosto. Se a moção passar, e o presidente Matarella convocar novas eleições, estas deverão ocorrer num prazo de 45 a 70 dias, ou seja em outubro. Mas o presidente não quer eleições nessa altura, pois significaria um governo cessante a preparar o orçamento e negociar com Bruxelas, situação que vê como prejudicial para o país. Matarella tem também a possibilidade de formar um governo provisório com o apoio do atual parlamento. A Liga e o M5S já se manifestaram contra essa via.

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