Gaza

Israel continua a impedir agência da ONU de levar ajuda urgente a Gaza

22 de outubro 2025 - 11:44

O comissário-geral da agência da ONU de assistência aos refugiados da Palestina explica que se continua a passar fome em Gaza quando os camiões das Nações Unidas têm comida suficiente para alimentar a população durante dois ou três meses.

PARTILHAR
Philippe Lazzarini.
Philippe Lazzarini. Foto de Mark Garten/ONU.

Em entrevista ao El País, esta quarta-feira, Philippe Lazzarini, comissário-geral da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente, mais conhecida pela sua sigla em inglês, UNRWA, fala sobre os bloqueios de Israel à ajuda humanitária e o cessar-fogo em Gaza.

Faz ainda o balanço dos últimos dois anos em que, no terreno, esta assistiu a “uma guerra na qual a população civil parece ter-se tornado um alvo”, vitimando fatalmente “entre 67.000 e 68.000 pessoas, a grande maioria mulheres e crianças”, referindo “a escala da destruição, a constante deslocação, o fecho de fronteiras” e uso de alimentos “como arma de guerra para matar à fome uma população” o que poderá “certamente ser considerado um crime de guerra, se não mesmo um crime contra a humanidade”.

Sobre o cessar-fogo, admite que é “frágil” mas também um “grande alívio” que permitiu, pela primeira vez em muito tempo, que os habitantes de Gaza “não se preocupem em morrer a cada segundo”.

Apesar disso, a ajuda humanitária da UNRWA continua a ser bloqueada. O responsável da agência da ONU explica: “temos suficiente comida para cobrir as necessidades da população durante os próximos dois ou três meses. Porém, “até agora não permitiram que chegasse um único comboio” (ou seja um único grupo camiões com ajuda humanitária).

Há camiões a chegar, nomeadamente do Programa Mundial de Alimentos, da Unicef e alguns outros. No acordo de cessar-fogo constava a entrada de pelos menos 600 camiões diários mas fala-se de “uns 200” que realmente conseguem passar a fronteira, o que “não responde aos desafios atuais”.

E, para além da comida, há outros bens indispensáveis como tendas de campanha e sistemas de dessalinização de água que continuam presos no Egito e na Jordânia.

Ainda assim, prossegue, a UNRWA “continua a ser o principal fornecedor de serviços de saúde primária” no território, cobrindo pelo menos 40% das consultas. Entre as suas atividades, explica-se, contam-se igualmente a realização de rastreios nutricionais para crianças, a gestão de resíduos para prevenir propagação de doenças, a facilitação do acesso à água com recurso a bombas e sistemas de dessalinização e a gestão de abrigos onde as crianças têm aulas.

A educação, afirma Lazzarini, é a maior das preocupações dos palestinianos de Gaza depois das “necessidades mais básicas”. É igualmente uma prioridade da UNRWA para “restaurar o direito à educação e o direito a sonhar com um futuro melhor”, “garantir que os escombros e os traumas não se tornem o novo ambiente educativo das crianças” e “evitar que as sementes do ódio e do extremismo continuem a crescer na região”. O suíço diz que as estimativas são que cerca de 80% das escolas e centros de saúde estejam danificadas ou tenham sido destruídas por completo.

A primeira prioridade é por isso óbvia: “combater a fome e proteger as pessoas para o inverno que se avizinha, que será rigoroso”.

O comissário-geral da organização lamenta ainda a proibição da sua presença em Jerusalém Oriental, já que a UNRWA, por decisão do parlamento israelita, não pode estar presente no Estado de Israel e este “considera Jerusalém Oriental ocupada como parte do seu Estado soberano”.

Um último tópico que aborda é a situação “muito crítica” na Cisjordânia, que foi ofuscada pelo genocídio em Gaza. Aí, o ano foi “sombrio” relativamente ao “número de pessoas assassinadas, “a violência dos colonos irrompeu e prevalece um sentimento de total impunidade”.

Termos relacionados: InternacionalPalestina