O número de crianças e jovens que vivem na rua e são acompanhados pelo Instituto de Apoio à Criança (IAC) tem aumentado continuamente desde 2022. Nesse ano eram 564, em 2024 foram 953. Segundo a vice-presidente do IAC, Matilde Sirgado, uma das causas para esse aumento é a crise da habitação.
Os dados mais recentes são do Projeto Rua e constam no Relatório de Atividades do IAC para 2024. Estas crianças passam horas sem ir à escola e sem supervisão parental, sendo consideradas em situação de risco embora possam estar inseridas numa comunidade.
O relatório do IAC contraria as declarações da ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, que afirmou que “nenhuma criança ficará sem-abrigo” já que o seu ministério deveria garantir resposta a situações de emergência.
Habitação
Ministra diz que a resposta à crise de habitação “não é da competência do Governo”
As sinalizações de crianças e jovens em risco devido à perda de habitação já têm sido noticiadas desde 2023, os casos com que o IAC lida são aqueles “onde tudo falhou”. “Maioritariamente estes jovens vêm de bairros com condições adversas e fogem para a cidade que vêem como sendo onde estão os pólos atrativos”, disse Matilde Sirgado ao jornal Público. “As crianças é que nos fazem chegar ao bairro A ou B. Porque as encontramos e percebemos qual é o bairro que necessita da nossa intervenção mais sistemática ou não”.
O universo de centenas de jovens divide-se em vários grupos. Há quem fuja de casa ou da instituição de acolhimento, os irmãos e irmãs destas, que o IAC procura para prevenir que a situação se replique, e as crianças e jovens que “em bairros com condições adversas, deixaram a escola e estão expostos aos perigos de serem apanhados em redes de crime que os levam para cometerem pequenos furtos, ou para a exploração sexual”. Muitos são de famílias monoparentais, onde o pai ou mãe trabalham o dia inteiro, deixando as crianças sozinhas durante bastante tempo.