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Guterres: “2023 deve ser um ano de ação climática revolucionária”

Dirigindo-se à Assembleia Geral em Nova Iorque, o Secretário-Geral das Nações Unidas reforçou que “2023 é um ano de ajuste de contas” e que é preciso “disrupção para acabar com a destruição” do ambiente.
Foto de European Parliament, Flickr.

Lembrando que o direito ao desenvolvimento é indissociável do direito a um meio ambiente limpo, saudável e sustentável, António Guterres alertou que é preciso “acabar com a guerra impiedosa, implacável e sem sentido contra a natureza”.

“2023 é um ano de ajuste de contas. Deve ser um ano de ação climática revolucionária. Precisamos de disrupção para acabar com a destruição”, enfatizou.

Dirigindo-se à Assembleia Geral em Nova Iorque, Guterres defendeu que são necessárias “ações muito mais ambiciosas” na mudança de combustíveis fósseis para energia renovável, especialmente no âmbito do grupo de nações industrializadas do G20. Além disso, referiu que empresas, cidades, regiões e instituições financeiras que se comprometeram com emissões líquidas zero de carbono devem apresentar os seus planos de transição, com metas credíveis e ambiciosas, até setembro.

E deixou uma mensagem “para os produtores de combustíveis fósseis e os seus facilitadores, que se esforçam por expandir a produção e aumentar os lucros dos monstros”: “Se não podem estabelecer um rumo credível para net-zero, com objetivos para 2025 e 2030 cobrindo todas as suas operações, não devem estar neste negócio".

Lembrando que a ação climática é impossível sem financiamento adequado, o Secretário-Geral das Nações Unidas instou os países mais ricos a, no mínimo, cumprir as promessas feitas na conferência de mudanças climáticas COP27 da ONU no Egito.

Guterres convocará uma Cimeira de Ambição Climática em setembro, antes da conferência COP28 nos Emirados Árabes Unidos em dezembro, que estará aberta a todos os líderes governamentais, empresariais e da sociedade.

“Ação urgente para alcançar a paz”

No seu discurso, Guterres apelou ainda a uma ação urgente para alcançar a paz, direitos económicos e desenvolvimento, ao respeito pela diversidade e sociedades inclusivas – tanto hoje quanto nas gerações futuras.

“Ao olharmos para as prioridades para este ano, uma abordagem enraizada nos direitos é fundamental para alcançar a nossa prioridade final: um mundo mais seguro, mais pacífico e mais sustentável”, frisou.

O Secretário-Geral das Nações Unidas afirmou temer “que o mundo não esteja a caminhar como um sonâmbulo para uma guerra mais ampla”. No seu entender está, isso sim, a fazê-lo “com os olhos bem abertos”.

“O mundo precisa de paz. Paz de acordo com a Carta das Nações Unidas e o direito internacional”, enfatizou.

Guterres referiu-se às situações no Médio Oriente, onde a solução de dois estados entre Palestina e Israel está a tornar-se cada vez mais distante; no Afeganistão, onde os direitos das mulheres estão sob ataque; no Sahel, onde a insegurança aumenta; em Myanmar, que enfrenta novos ciclos de violência e repressão, e no Haiti, onde a violência quotidiana mantém todo o país refém.

O líder da ONU alertou para os perigos da proliferação das armas nucleares, advogando que é preciso trabalhar para a sua eliminação total.

Combate às desigualdades e discriminação

Guterres apelou também a uma “transformação radical” da arquitetura financeira global, afirmando que “sem reformas fundamentais, os países e indivíduos mais ricos continuarão a acumular riqueza, deixando migalhas para as comunidades e países do Sul Global”.

O representante máximo da ONU advertiu que o respeito pela diversidade e a universalidade dos direitos culturais estão sob ataque, como evidenciado em parte pelo aumento do anti-semitismo, fanatismo anti-muçulmano, perseguição de cristãos, racismo e ideologia de supremacia branca.

Guterres fez referência à forma como minorias étnicas e religiosas, refugiados, migrantes, indígenas e a comunidade LGBTQI+ são cada vez mais alvo de ódio, ao mesmo tempo que muitas pessoas em posições de poder estão a caricaturar a diversidade como uma ameaça, semeando divisão e ódio. E assinalou que a discriminação de género é global e está a agravar-se.

“Enfrentamos uma intensa pressão contra os direitos de mulheres e meninas. Os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres e as proteções legais estão sob ameaça. A nível internacional, alguns governos agora opõem-se até mesmo à inclusão de uma perspetiva de género nas negociações multilaterais”, afirmou.

Com a pandemia, abriu-se ainda uma porta para o intensificar das “violações de direitos civis e políticos”, disse Guterres, alertando que o espaço cívico “está a desaparecer diante dos nossos olhos”.

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