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425 organizações pedem à ONU que impeça a "captura" da COP28 pela indústria fóssil

Na carta dirigida a António Guterres, as organizações dizem que a escolha do lider da petrolífera dos Emirados para presidir à próxima conferência do clima "ameaça a legitimidade e a eficácia" da COP28.
Protesto à porta da COP27 no ano passado no Egito. Foto Ayumi Fukakusa/Friends of the Earth Japan - Flickr

A carta é subscrita por 425 organizações de defesa do ambiente de todo mundo e dirigida a António Guterres e Simon Stiell, o secretário executivo da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (UNFCCC). E deixa duras críticas à nomeação de Sultan Al Jaber, o líder da Abu Dhabi National Oil Company (ADNOC) para presidir às negociações da próxima cimeira do clima, que se realiza nos Emirados Árabes Unidos.

Para os signatários, "esta decisão ameaça a legitimidade e a eficácia da COP28. Se quisermos ter alguma esperança de enfrentar a crise climática, todas as COP devem ser livres da influência poluente da indústria dos combstíveis fósseis". Lembram que a ADNOC é o 12º maior produtor mundial de petróleo e o 14º na lista de maiores emissores de carbono para a atmosfera. E ocupa o segundo lugar na lista das empresas quanto à dimensão dos seus planos de expansão de produção de petróleo e gás. Planos que, lembram as associações, "são incompatíveis com o cenário da Agência Internacional de Energia Atómica, que deixou claro que não pode haver nenhuma nova infraestrutura de gás e petróleo para se conseguir limitar o aumento da temperatura a 1,5°C". Quanto aos próprios Emirados, as associações dizem que as suas ações até agora já deixaram bem claro que é um dos agentes principais "que causam a crise climática, não dos que a resolvem".

"Nenhuma COP presidida por um executivo dos combustíveis fósseis pode ser considerada como legítima", prossegue a carta, exigindo que as presidências destas conferências sejam independentes da influência da indústria fóssil. Além disso, exigem também que os grandes poluidores não tenham um lugar à mesa para exercer a sua influência na definição das políticas climáticas e o fim dos patrocínios deste tipo de encontros por parte da indústria poluente, que cada vez mais os utiliza como ocasião perfeita para as suas operações de greenwashing.

Se uma das razões desta iniciativa é tirar os poluidores de dentro destas conferências, o inverso é defendido para a sociedade civil que tem sido alvo de barreiras crescentes à participação e cada vez mais dificuldades em fazere ouvir a sua voz nestes eventos. Por fim, reclamam uma transição justa no abandono dos combustíveis fósseis, com soluções centradas nos trabalhadores, povos indígenas, mulheres e comunidades locais.

Em Portugal, a associação Zero, que também subscreve a carta, considera que "os poluidores têm um papel a desempenhar: parar de poluir". E não podem ser "colocados num pedestal de liderança" nem estar "em posição de minar e enfraquecer a política. Tal é basicamente um absurdo". O mesmo vale para as "legiões de lobistas [que] convergem para as negociações climáticas anuais" ou patrocinadores das conferências como a Coca-Cola, "a maior poluidora de plásticos do mundo".

"A UNFCCC tem sido cada vez mais capturada pelo poder corporativo – especialmente pelos interesses dos combustíveis fósseis – enquanto reverte o acesso da sociedade civil. Para a ZERO, não podemos ceder este espaço para quem tem interesse no lucro à custa das pessoas e do planeta", afirma a associação.

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