Greve dos revisores da CP suprimiu mais de metade dos comboios

31 de maio 2023 - 12:25

Paralisação contesta a ameaça de retirada dos revisores nos comboios que circulam vazios. Vários sindicatos desconvocaram a greve após receberem garantias do secretário de Estado.

PARTILHAR
Comboio
Foto de Paulete Matos.

Apenas o Sindicato Ferroviário da Revisão Comercial Itinerante (SFRCI) manteve a paralisação convocada para esta quarta-feira. “Fomos afetados com a questão da retirada dos revisores das marchas, vamos perder postos de trabalho e estamos a ser, na distribuição do aumento complementar, discriminados face a outros trabalhadores”, disse Luís Bravo, do SFRCI, esta terça-feira à Lusa.

Segundo as contas da empresa, até às oito da manhã foram suprimidos 34 dos 66 comboios regionais previstos, 71 dos 112 comboios urbanos em Lisboa, 26 dos 53 no Porto. Quanto aos comboios de longo curso, circularam apenas três dos doze previstos.

A greve foi marcada após a CP e o Sindicato dos Maquinistas terem anunciado um acordo que abria a possibilidade de retirar os revisores das viagens dos comboios que circulam sem passageiros, passando a fazê-lo apenas com o maquinista. Por outro lado, acrescentou Luís Bravo à Lusa sobre o anúncio de um aumento intercalar de 1%, com a “urgência do acordo com o sindicato dos maquinistas”, a CP acabou por “absorver grande parte desse orçamento”, ficando os outros trabalhadores “muitos lesados”, ao verem que alguns recebem aumentos de 50 euros e outros de apenas 12 euros. A CP rejeita que esteja a propor aumentos salariais desiguais e diz que apenas este sindicato não reconhece o esforço negocial que a empresa tem seguido para acabar com as greves dos últimos meses.

Quanto aos restantes sindicatos que se tinham juntado a esta convocatória, acabaram por retirá-la na véspera após uma reunião com o secretário de Estado das Infraestruturas, Frederico Francisco. A Fectrans e o Sindicato Nacional dos Trabalhadores do Setor Ferroviário (SNTSF) dizem ter recebido um “conjunto de algumas garantias transmitidas pelo secretário de Estado” e um acordo com a CP, pelo que irão “continuar um processo de negociação”. O Sindicato Independente dos Trabalhadores Ferroviários, das Infraestruturas e Afins (SINFA) também "acompanhou a posição" dos sindicatos que desconvocaram a sua greve.

Para o coordenador da Fectrans, José Manuel Oliveira, nas questões relativas ao número de tripulantes por comboio “há algumas garantias do secretário de Estado que renovam o que foi acordado em 2018” e na altura impediu que avançasse a proposta dos comboios circularem apenas com o maquinista. O sindicalista acrescenta que serão agora “marcadas reuniões mais particulares com o secretário de Estado para discutir alguns problemas do setor ferroviário”, incluindo “as questões que têm a ver com a segurança na circulação”.

CP assina acordo para aumento intercalar com 15 sindicatos

Quanto ao aumento salarial intercalar, a Fectrans anunciou a assinatura de um acordo com a CP. "Nos termos do acordado os trabalhadores terão, no mínimo, uma atualização salarial intercalar na ordem dos 50€/mês (12,50€ na tabela, mais 1,79€/dia no prémio de produtividade) e a negociação continuará já no mês de Junho, para as questões das carreiras profissionais", avança a federação sindical. Noutras atualizações, o valor fixo da fórmula do prémio de revisão passe para 6.20€, em vez dos atuais 4,41€, o abono de Itinerância pessoal móvel será de 7.30€, e as ajudas de custo por repouso fora da sede serão de 27,50€ entre as seis e as 18 horas e de 30€ quando superior a 18 horas.

Por resolver ficam ainda as questões de condução de material motor em parque, a situação nas oficinas de Vila Real de Santo António, assim como a redução da carga horária nas estações e a possibilidade de coincidir mais descansos com o sábado e domingo, acrescenta a Fectrans. "Se a administração da CP pensa que após este acordo fica descansada, está enganada", avisam.

Por seu lado, a administração da CP anunciou ter chegado a acordo sobre os aumentos intercalares com todos os sindicatos à exceção do que manteve a greve desta quarta-feira. A empresa lamentou que “o SFRCI seja o único sindicato a não chegar a um consenso com a empresa”, destacando que isso “determinará aumentos inferiores para os seus associados comparativamente com os trabalhadores abrangidos por outros acordos de empresa”.


Notícia atualizada às 15h40 com informação sobre os acordos entre administração e sindicatos sobre aumentos intercalares.

Termos relacionados: SociedadeCPGreve