O que parecia vir a ser a maior crise política no interior do governo espanhol acabou por durar menos de 48 horas. Em causa estava um contrato de compra de munições a uma empresa israelita que fornece armas para o genocídio em Gaza, apesar da promessa do governo do PSOE/Sumar de suspender todos os contratos deste tipo, feita em outubro passado.
A notícia da publicação deste contrato no portal da contratação pública caiu como uma bomba na coligação de Governo. E as explicações do Ministério do Interior - de que estava a cumprir um parecer jurídico que alertava para os riscos de penalizações em caso de cancelamento do negócio - não convenceram o Sumar e a Izquierda Unida, cujos dirigentes colocaram em cima da mesa o cenário de abandonar o Governo.
Na quinta-feira, o gabinete do primeiro-ministro fez saber que o contrato em causa será mesmo cancelado, independentemente das penalizações e batalhas jurídicas que se venham a desenrolar. Além da preservação da harmonia interna do executivo, já abalada com a decisão de reforço dos gastos militares em linha com as exigências da NATO , Sánchez procura também preservar a sua imagem enquanto o líder político europeu mais firme na condenação do genocídio e no reconhecimento do Estado da Palestina.
O anúncio do recuo foi saudado pela líder do Sumar no executivo, a ministra Yolanda Díaz: “Conseguimos parar este contrato, a anulação do mesmo e o compromisso com o povo palestiniano é absoluto. Não há relativismo na defesa dos direitos humanos”, afirmou a também vice-presidente do Governo.
Apesar do mal-estar com o ministro do Interior Fernando Grande-Marlaska, agora desautorizado por Pedro Sánchez, o diário El País diz que a saída do ministro não está em causa. Marlaska é desde sempre contestado pela ala esquerda do Governo, mesmo quando o Podemos o integrava, pela sua ação na política de migração, que teve o ponto mais baixo com a morte de migrantes na fronteira de Melilla.