Gaza: “Não há água. Não há saneamento. Não há comida. Só bombas”

07 de dezembro 2023 - 17:42

Descrição é do porta-voz da Unicef, e não podia ser mais clara. ONU alerta que famílias no norte de Gaza estão “a enfrentar níveis alarmantes de fome”. Para os próximos dias estão marcadas várias iniciativas de solidariedade com a Palestina em Portugal, com uma manifestação em Lisboa já esta sexta-feira.

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Foto Ashraf Amra, UNRWA.

Israel continua a bombardear a Faixa de Gaza, já devastada pelos ataques contínuos a que tem estado a ser sujeita. As imagens que retratam a destruição no enclave falam por si, com os escombros a ocuparem a paisagem que outrora era preenchida por casas, escolas, mesquitas e todo o tipo de infraestruturas.

É uma “zona de morte”, tal como já referiu anteriormente o porta-voz da UNICEF. “Não há água. Não há saneamento. Não há comida. Só bombas”, descreve agora James Elder.

Maher Shamiyeh, subsecretário adjunto do Ministério da Saúde de Gaza, descreveu a situação no Hospital al-Shifa: “O Complexo Médico Al-Shifa costumava representar 40 a 50 por cento da capacidade total de operações do ministério da Saúde [antes de 7 de outubro], mas agora não tem eletricidade e está cheio de milhares de pessoas deslocadas”, frisou. “Ontem recebemos 200 mortos e 200 feridos. A maioria dos feridos precisa de cirurgias complicadas”, continuou Maher Shamiyeh. A maioria dos profissionais de saúde estão agora no sul de Gaza e não podem regressar à cidade de Gaza ou ao norte do enclave porque o exército israelita não o permite.

O Programa Alimentar Mundial das Nações Unidas publicou um relatório que destaca a insegurança alimentar na Faixa de Gaza, salientando que as famílias no norte de Gaza estão “a enfrentar níveis alarmantes de fome”. Pelo menos 97 por cento dos agregados familiares no norte de Gaza têm “consumo inadequado de alimentos”, com nove em cada 10 pessoas a passarem um dia e uma noite inteiros sem comer. Nas províncias do sul, um terço das famílias relatou níveis elevados de fome grave ou muito grave, com 53 por cento a sofrer de fome moderada.

A Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinianos (UNRWA) afirma que o pesado bombardeamento da Faixa de Gaza tornou a situação “desesperadora”. “As condições exigidas para a entrega da ajuda não existem. Os abrigos da UNRWA estão superlotados”, escreve a agência da ONU no X. “Não há ajuda suficiente para satisfazer as necessidades esmagadoras. As operações da UNRWA estão a ser estranguladas”, continua a agência.

No sul ao ataques intensificam-se, incluindo em Rafah. As Nações Unidas (ONU) apontam que cerca de 25 por cento da população de Khan Younis, no sul de Gaza, está sob ordens de evacuação. O jornalista Hani Mahmoud, da Al Jazeera, atualmente em Rafah, explicou esta quinta-feira que, apesar das ordens israelitas para que as pessoas do centro de Gaza e de Khan Younis evacuassem para a cidade por segurança, Rafah sofreu fortes bombardeamentos durante a noite. O exército israelita “ordenou, num tom ameaçador, que se mudassem para Rafah porque é seguro, mas desde ontem à noite… pelo menos cinco casas residenciais foram atacadas e destruídas. E estamos a falar de um grande número de pessoas que foram mortas”, apontou. “[Estes ataques] não estão concentrados numa área de Rafah… vários locais foram alvo, apenas enviando ondas de medo e preocupação que confirmam o que as pessoas falaram e expressaram antes – não há literalmente nenhum lugar seguro na Faixa de Gaza, incluindo as áreas que Israel designou como seguras”, detalhou o jornalista.

A violência também tem escalado na Cisjordânia. Pelo menos 21 palestinianos foram detidos em ataques durante a noite, de acordo com dados preliminares da Sociedade de Prisioneiros Palestinianos. As forças israelitas disparam gás lacrimogéneo e balas de borracha contra jovens palestinianos em Ramallah.

Portugal sai à rua em solidariedade com Palestina

Para esta sexta-feira, dia 8 de dezembro, está marcada uma manifestação em Lisboa. A iniciativa terá início no Martim Moniz, pelas 15h, e terminará no Largo José Saramago (Campo das Cebolas). No Porto, todos os dias é realizada uma vigília em solidariedade com a Palestina em frente à Câmara Municipal, a partir das 22h.

Mas são várias as ações que se multiplicam um pouco por todo o país. Podes consultar aqui a agenda do que já está agendado até dia 16 de dezembro. De qualquer forma, vamos atualizando estas informações na Agenda do Esquerda.net.

Dia 8, sexta-feira

Não são números: intervenção popular pela Palestina
Organização: pessoas individuais e Coletivo pela Libertação da Palestina.
Porto, Rua Santa Catarina, em frente ao Via Catarina, 15h.

Manifestação: "Palestina Independente! Paz no Médio Oriente!"
Mais informações.
Lisboa, Concentração no Martim Moniz e desfile até ao Largo José Saramago (Campo das Cebolas), 15h.

Vigília de Solidariedade com a Palestina
Braga, Cruzamento da Rua do Castelo com a Rua do Souto, 22h.

Dia 9, sábado

Sessão pública de debate sobre a Paz no Médio Oriente e a Palestina Independente
Contará com a participação de Helena Barbosa, do Conselho Português para a Paz e Cooperação, e Carlos Almeida, do Movimento Pelos Direitos do Povo Palestino e pela Paz no Médio Oriente. Ver cartaz.
Viseu, Carmo'81, 17h.

Dia 12, terça

Ciclo de Cinema Palestiniano: Ouroboros (2017), Basma Alsharif (realiz.), e Scenes of the Occupation from Gaza (1973), Mustafa Abu Ali (realiz.)
Entrada gratuita. Filmes legendados em inglês. Organização: URAP e SOS Racismo, com Palestinian Film Institute, no âmbito do ciclo “Unprovoked Narratives”, integrado nas Comemorações Populares em Coimbra dos 50 anos do 25 de Abril.
Coimbra, Teatro da Cerca de São Bernardo, 21h30.

Dia 13, quarta

Ciclo de Cinema Palestiniano: One More Jump (2019) Emanuele Gerosa (realiz.)
Entrada gratuita. Filme legendado em inglês. Organização: URAP e SOS Racismo, com Palestinian Film Institute, no âmbito do ciclo “Unprovoked Narratives”, integrado nas Comemorações Populares em Coimbra dos 50 anos do 25 de Abril.
Coimbra, Teatro da Cerca de São Bernardo, 21h30.

Dia 16, sábado

Cantata Solidária pela Palestina
Concerto por CRAMOL, seguido de debate sobre cultura palestiniana. CRAMOL é um coro de canto tradicional de mulheres, que cantam o trabalho e a terra. Em solidariedade com o povo palestiniano, por um cessar-fogo imediato, apresentam uma cantata pela Palestina. Ver cartaz/mais informações.
Lisboa, Casa dos Bicos / Fundação José Saramago - Rua dos Bacalhoeiros 10, 18h30.