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Frente Polisario acusa Espanha de ceder à chantagem de Marrocos

O governo espanhol coloca-se ao lado de Marrocos na disputa sobre o território do Sahara Ocidental. Para a resistência saharaui, a posição espanhola “está absolutamente em contradição com a legalidade internacional”.
Pedro Sánchez. Foto La Moncloa/Flickr

Numa carta enviada pelo primeiro-ministro espanhol ao rei de Marrocos, Mohammed VI, cujo conteúdo foi divulgado pelo gabinete do monarca, Pedro Sánchez declara que “Espanha considera a iniciativa de autonomia apresentada por Marrocos como base em 2007 a mais séria, realista e credível para solucionar a disputa”. Até agora, o país que ainda é considerado a potência administrativa colonial do território considerava que o controlo de Marrocos era uma ocupação e que a solução passava pelo  referendo patrocinado pela ONU.

Esta mudança de posição do governo espanhol coloca-o, a par do francês, como principal aliado europeu de Marrocos no conflito que dura há várias décadas. Para a Frente Polisario, trata-se de um “desvio perigoso, que viola a legalidade internacional, apoia a ocupação, dá ânimo à agressão e à política de factos consumados”, além de “legitimar a repressão, crimes de guerra, crimes contra a humanidade e o saque de riquezas que Marrocos provove contra o povo saharaui”.

“Infelizmente, em vez de pretender restabelecer as suas relações bilaterais com o seu vizinho do Sul sobre bases corretas e sólidas, Madrid optou por submeter-se, uma vez mais, à chantagem marroquina”, lamenta a Frente Polisario em comunicado, recordando também que nem a ONU nem a União Europeia ou a União Africana, o Tribunal Internacional de Justiça ou o seu congénere europeu reconhecem qualquer soberania sobre o Sahara Ocidental.

Com a sua declaração, o governo espanhol pretende iniciar “uma nova etapa” das relações com Marrocos, marcadas nos últimos anos, obtendo em troca garantias de que não se repetirão “ações unilaterais” coo a entrada irregular em maio passado de mais de 10 mil imigrantes em Ceuta em dois dias, ou a extensão da zona económica exclusiva de Marrocos até às águas das Canárias. A diplomacia marroquina já anunciou a visita do ministro dos Negócios Estrangeiros espanhol este mês e o posterior agendamento de uma visita de Pedro Sánchez ao país.

A mudança de posição a favor de Marrocos e contra o povo sarahaui provocou tensão entre o PSOE e os seus parceiros de governo do Podemos. Para a secretária-geral Ione Belarra, Estanha não deve afastar-se do direito internacional a solução passa por implementar as resoluções da ONU, que preveem o respeito pela autodeterminação da população do Sahara Ocidental. Também a ministra Yolanda Diaz veio reafirmar o seu compromisso com a defesa do povo sarahui e as resoluções do Conselho de Segurança da ONU. “Toda a solução para o conflito deve passar pelo diálogo e o respeito à vontade democrática do povo saharaui. Continuarei a trabalhar para isso”, afirmou nas redes sociais. Alberto Garzón, da Izquierda Unida, também veio defender que “o povo saharaui tem direito a expressar como quer que seja o seu futuro através de um referendo livre, como desde 1995 estabeleceu o Conselho de Segurança das Nações Unidas”.

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