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França: milhares nas ruas contra a violência policial

Mais de centena e meia de sindicatos, partidos e movimentos sociais convocaram as manifestações que decorreram em mais de cem cidades francesas “contra a violência policial, as liberdades civis e o racismo sistémico”.

As palavras de Victor Hugo ecoaram este sábado em mais de cem cidades de França. A famosa frase “police partout, justice nulle part”, lançada em julho de 1851 contra a repressão de Charles-Louis Napoléon Bonaparte, tornou-se palavra de ordem contemporânea contra os episódios de violência policial que têm acontecido no país.

A “Marcha Unida” ou “marcha pela justiça” foi convocada por 198 sindicatos, entre os quais as centrais CGT e SUD, partidos políticos, como a França Insubmissa, os Verdes e o PCF, e inúmeros coletivos de bairros populares e movimentos sociais. O Partido Socialista, por seu turno, anunciou que não iria marcar presença por considerar que “envergonhava toda uma profissão” e por não acreditar na existência de violência policial sistémica disse um dirigente partidário à BFMTV.

Por sua vez, Sophie Binet, secretária-geral da CGT, à franceinfo, contrapõe que “é preciso romper com o princípio de sempre menos polícias e cada vez mais armados” de forma “reestabelecer a confiança” entre a polícia e a população.

O mote das mobilizações era “contra a violência policial, as liberdades civis e o racismo sistémico”.

E os manifestantes lembraram vítimas como Nahel, um jovem de 17 anos morto a tiro pela polícia a 27 de junho numa situação de controlo de trânsito. Este crime levou a uma vaga de indignação que percorreu todo o país. Foi a ele que Jean-Luc Mélenchon, dirigente da França Insubmissa se referiu para justificar a sua presença: “Dois meses após a morte de Nahel, não estamos consolados e não aceitamos que pessoas sejam baleadas por se recusarem a obedecer”.

À AFP, Hawa Cissé, recordou um caso diferente que ilustra não a violência policial mas o racismo entranhado, o do seu irmão, Mahamadou, morto por um ex-militar em dezembro de 2022 e que já foi posto em liberdade.

Os manifestantes, que terão sido 80.000 de acordo com a organização, não são os únicos a referir este tipo de situações. Em julho, o Comité da ONU para a Eliminação da Discriminação Racial denunciou a prática “persistente de perfilagem racial combinada com uso excessivo da força na aplicação da lei, em particular pela polícia, contra membros de grupos minoritários, nomeadamente as pessoas de origem africana e árabe”.

E no mapa digital mundial da repressão de protestos, lançado pela Amnistia Internacional a semana passada, o Estado francês surge identificado por tratar o protesto “como uma ameaça”, por usar força “ilegalmente contra manifestantes” e usar armas não letais de forma incorreta, para além da sua “legislação repressiva”.

Assim, uma das reivindicações dos manifestantes era precisamente a revogação da lei de 2017 que flexibilizou regras de uso de armas de fogo pelas autoridades policiais. Propõe-se ainda uma reforma profunda da polícia e investimentos nos bairros populares, nomeadamente nos serviços públicos de proximidade.

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