Fim ao fóssil: Faculdade chamou polícia para deter ativistas

14 de novembro 2023 - 13:11

O primeiro dia de ações da Greve Climática Estudantil ficou marcado pela detenção de seis ativistas que iam pernoitar na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas. Bloco questionou o Governo sobre as cada vez mais frequentes solicitações de diretores de faculdades a intervenções policiais nas suas instalações.

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Ativistas da Greve Climática na FCSH
Foto Greve limática Estudantil/Telegram

Seis ativistas da Greve Climática Estudantil acabaram detidos pela PSP no interior da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, onde pretendiam pernoitar no âmbito do protesto iniciado esta segunda-feira em várias faculdades e escolas secundárias. Passaram a noite detidos e foram libertadas na manhã de terça-feira.

Em comunicado, a Greve Climática Estudantil diz que os estudantes acabaram por ser retiradas por volta da 1h da manhã, tendo resistido pacificamente. A situação mais grave aconteceu em seguida, quando a viatura da PSP que transportava uma das detidas atropelou um peão à saída da faculdade, tendo este e a estudante detida sido atendidos pelo INEM no local.

"A suposta "faculdade que luta", que celebra o Salgueiro Maia com um mural, não hesitou em reprimir a luta dos estudantes", afirma Beatriz Xavier, porta-voz da ação e uma das estudantes da FCSH que foram detidas. "De que serve louvar as lutas do passado se depois chamam a polícia para silenciar as do presente?", questiona.

"Eu não queria ter de lutar para garantir o meu futuro, mas é esta a nossa realidade. Não podemos continuar apenas a estudar para um futuro que não vamos ter se nada fizermos. Precisamos de disrupção para parar a destruição", defende a ativista. Para esta terça-feira às 15h30 está marcada uma ação de protesto na faculdade.

Também o professor da FCSH e presidente do Instituto de História Contemporânea daquela faculdade, José Neves, reagiu às detenções das estudantes com críticas à intervenção policial solicitada pela direção da faculdade, que justificou a chamada com a ausência de "autorização prévia" das estudantes para ali permanecerem após as 23h.

"Custa-me muito que a direção da minha faculdade entenda que situações deste teor se resolvem à lei da força e a pretexto de razões burocráticas. E isto passou-se uma semana depois de a faculdade ter inaugurado um mural de homenagem a Salgueiro Maia, ele que se esqueceu de pedir "autorização prévia" para sair à rua na madrugada de 25 de abril de 1974", remata o investigador.

Protestos continuam nas escolas, dia 24 há ocupação do Ministério do Ambiente

Os protestos em defesa do fim do uso de combustíveis fósseis até 2030 e por eletricidade 100% renovável e acessível até 2025 prosseguem agora e prometem continuar a causar disrupção em escolas e instituições até que o Governo se comprometa com um plano "que garanta uma transição justa dentro dos prazos ditados pela ciência e através de um serviço público de energias renováveis".

Faixa e fumos na ação desta terça-feira de manhã na Faculdade de Psicologia em Lisboa. Faixa e fumos na ação desta terça-feira de manhã na Faculdade de Psicologia em Lisboa. Foto Greve Climática Estudantil/Telegram

Segundo a Greve Climática Estudantil, na Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa, a entrada principal foi bloqueada durante a manhã de segunda-feira e, durante a tarde, a polícia foi chamada à faculdade para parar uma palestra sobre ciência climática. "A polícia atravessou a audiência de 40 estudantes e ameaçou à palestrante que a iria deter se continuasse a falar sobre a crise climática", dizem os ativistas. Segundo a porta-voz das ações nesta faculdade, o diretor da instituição proibiu qualquer conversa sobre o tema na faculdade, alegando que "as faculdades não podem ser locais de protesto ou de manifestações".

Na Faculdade de Letras, os estudantes interromperam uma aula do diretor para dar uma palestra sobre "justiça climática vs um sistema focado no lucro". Na escola Filipa de Lencastre os estudantes foram impedidos de entrar na sua própria escola durante o dia, tendo feito um protesto na entrada. Também aconteceram ações no ISCTE, na FCUL, na Universidade de Coimbra, na ESTC e na FBAUL.

Criminalizar protestos estudantis "é um perigo para a democracia"

A deputada bloquista Joana Mortágua questionou o Ministério do da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, exigindo que sejam pedidas explicações à direção da faculdade sobre o ocorrido.

"Os recintos das universidades e politécnicos são historicamente considerados lugares de liberdade, onde as forças de segurança só em última instância devem intervir", defende a deputada do Bloco, afirmando a sua preocupação pelo facto de nos últimos anos, diretores de escolas e faculdades terem vindo a "quebrar este legado da luta estudantil pela democracia".

"A banalização da intervenção das forças policiais em recinto universitário ou politécnico é bastante preocupante. O lastro de “criminalização” dos protestos estudantis é um perigo para a democracia", afirmou Joana Mortágua.