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Família destaca “caráter premeditado e racista” do crime que vitimou Bruno

Este sábado, o ator Bruno Candé Marques, de 39 anos, pai de três filhos, foi assassinado com quatro tiros à queima roupa em Moscavide. Família da vítima e SOS Racismo querem que “a justiça seja feita de forma célere e rigorosa”. Bloco de Loures exige que todos os pormenores e motivações do crime sejam devidamente apurados.
Bruno Candé Marques. Foto retirada da sua página de facebook.
Bruno Candé Marques. Foto retirada da sua página de facebook.

Segundo o Comando da PSP de Lisboa, citado pelo Jornal de Notícias, o assassinato teve lugar na Avenida Moscavide, em Moscavide, concelho de Loures, pelas 13h20. O autor do crime, com cerca de 80 anos, surpreendeu Bruno em plena rua e baleou-o mortalmente, tendo sido posteriormente manietado por populares.

Num comunicado de imprensa remetido ao Esquerda.net, a família da vítima escreve que “Bruno Candé Marques, nascido em Portugal, em 18 de setembro de 1980, actor há inúmeros anos, participou em telenovelas reconhecidas como ‘Única Mulher’ e ‘Rifar o Coração’, para além de ser um velho membro da companhia Casa Conveniente (desde 2010)”.

“Há dois anos sofreu um acidente de bicicleta, por atropelamento, e desde então ficou com sequelas em todo o seu lado esquerdo. Foi-lhe atribuído um atestado de incapacidade, sendo as limitações de mobilidade evidentes. Apesar disso, Bruno continuou a lutar pelos seus sonhos, mantendo-se activo no teatro e avançando nos manuscritos para o livro que queria dar ao mundo”, lê-se na missiva.

Bruno é identificado como “uma pessoa extremamente afável e sociável, o tio preferido dos sobrinhos e um pai brincalhão, dedicado e ligado à sua família, à sua mãe, hoje com 78 anos. Pai de dois rapazes (5 e 6 anos) e de uma menina (que completa 3 anos em agosto)”. “Por onde o Bruno passasse criava amigos”, escrevem os seus familiares.

Sublinhando que Bruno “foi barbaramente assassinado”, esclarecem que “o seu assassino já o havia ameaçado de morte três dias antes, proferindo vários insultos racistas dirigidos ao próprio Bruno e à sua família”.

“Face a esta circunstância fica evidente o caráter premeditado e racista deste crime hediondo”, vincam, exigindo que “a justiça seja feita de forma célere e rigorosa”.

"Bruno Candé. Repita-se o nome"

Vários pessoas amigas e colegas do teatro têm reagido com emoção à morte de Bruno, quer em declarações à comunicação social como em publicações nas redes sociais.

 
Em declarações ao jornal Público, a encenadora e actriz Mónica Calle, que está à frente da companhia Casa Conveniente, afirma que "era impossível não gostar dele": "Em qualquer circunstância, em qualquer contexto, era uma pessoa impossível de não ser amada. Era alguém com uma alegria e generosidade como raramente conheci na vida. Tinha uma força e inteligência emocional incríveis. Era alguém que procurou sempre descobrir-se a si e aos outros”.
 
Na sua página de facebook, a companhia Casa Conveniente lembra que, em 2017, "o Candé sofreu um acidente grave e esteve em coma, tendo perdido a memória e capacidades motoras". "Neste momento, a Casa Conveniente e Zona Não Vigiada, têm trabalhado num novo projeto - “O Escuro Que Te Ilumina”, a partir da vida e recuperação do Candé, que está a ser preparado para 2021. No dia de hoje, torna-se certo que este projeto vai acontecer, com uma nova força", escreve a companhia.
 

“O racismo já matou e continua a matar”

Numa nota enviada à comunicação social, o SOS Racismo defende que “o caráter premeditado do assassinato não deixa margem para dúvidas de que se trata de um crime com motivações de ódio racial”.

“25 anos depois de Alcino Monteiro ter sido assassinado por ser negro, hoje foi a vez de mais um homem negro a morrer, em plena luz do dia, por motivos racistas”, escreve o SOS Racismo, prestando homenagem a Bruno Candé Marques e apresentando as suas condolências à família.

“O racismo já matou e continua a matar. Para que o assassinato do Bruno Candé Marques não seja mais um sem consequências, exigimos que justiça seja feita”, remata.

Todos os pormenores e motivações do crime devem ser apurados

Numa nota divulgada nas redes sociais, a concelhia do Bloco de Esquerda de Loures destaca que "o assassinato de Bruno Candé Marques choca-nos profundamente e obriga-nos a todos, enquanto sociedade, a refletir sobre como foi possível acontecer em plena luz do dia no centro de Moscavide".

O Bloco endereça ainda as suas sentidas condolências à família e amigos de Bruno Candé Marques e exige que todos os pormenores e motivações do crime sejam devidamente apurados.

Em declarações à TSF, a deputada municipal de Loures do Bloco Rita Sarrico defendeu a necessidade de "um debate amplo sobre o racismo em Portugal".

"Continuar a olhar para o lado e fingir que [o racismo] não existe é ingénuo e torna-se perigoso, com discursos cada vez mais extremados (...) infelizmente ontem provou-se o quão perigoso isso é", enfatizou.

Artigo atualizado às 23h07 de 25.07.20 com o comunicado do Bloco de Esquerda de Loures; às 03h14 de 26.07.20, com a reação de amigos e colegas; às 15h14 de 26.07.20 com a publicação da companhia Casa Conveniente; e às 16h16 de 26.07.20 com as declarações da deputada municipal Rita Sarrico.

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