França

Extrema-direita salva governo de Barnier de moção de censura

09 de outubro 2024 - 11:46

Os votos da União Nacional foram decisivos para que o Governo ficasse no poder a dois dias de apresentar um orçamento já anunciado como de austeridade. A esquerda francesa critica que “toda a direita francesa” prefere o apoio da extrema-direita “à menor concessão ao progresso social”.

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Michel Barnier na Assembleia Nacional. Foto de Yoan Valat.
Michel Barnier na Assembleia Nacional. Foto de Yoan Valat/EPA/Lusa.

Os 125 votos da União Nacional do Parlamento francês foram decisivos para que a moção de censura apresentada pela esquerda fosse chumbada. A favor da iniciativa votaram os deputados afetos à Nova Frente Popular (NFP), vários ex-socialistas que pertencem ao grupo parlamentar Liot e um deputado não inscrito.

O governo de Michel Barnier não pode respirar de alívio durante muito tempo porque o processo de tentativa de aprovação do orçamento será complexo e porque fica refém dos votos da extrema-direita.

À extrema-direita abunda o taticismo e, como é hábito, falta a coerência. Ainda no fim de semana Marine Le Pen acusava o governo recém-entrado em funções de ter “arruinado a França e mentido aos franceses”. E, na tarde desta terça-feira, o deputado da UN Guillaume Bigot enrolava-se na Assembleia Nacional na explicação deste sentido de voto, justificando que o executivo seria “um pouco o vosso” [da NFP] e que por isso a moção de censura seria um “embuste” ao passo que a extrema-direita se reservaria o direito de decidir o “dia e hora” em que o governo cairia. Apesar da ameaça, na mesma intervenção garantia ainda não querer “uma crise de regime”, sendo assim preferível um “governo de mal menor”.

À esquerda, na tribuna parlamentar, as coisas eram bem mais claras. Clémence Guetté da França Insubmissa dizia-se contra um governo “ilegítimo” feito de uma coorte de reacionários”. A ecologista Cyrielle Chatelain especificava alguns casos: cinco ministros não votaram pela constitucionalização da IVG e (…) seis votaram contra a igualdade no casamento”.

Ao secretário-geral do Partido Socialista, ainda antes disso, coube a defesa da moção de censura, salientando tratar-se de um governo de “continuidade do macronismo” que “nunca deveria ter sido nomeado” e que fica “sob tutela da extrema-direita” apesar de “dois terços dos franceses” terem decidido barrá-la nas urnas. Já a UN foi criticada por “se colocar sempre do lado do capital contra o trabalho tal como toda a direita francesa prefere o apoio da UN à menor concessão ao progresso social”.

O primeiro-ministro respondeu-lhe dizendo que em causa estava uma moção de censura “a priori”, que já estava prometida desde a sua nomeação para chefiar um executivo que dispõe de uma minoria “menos relativa” do que teria um governo da NFP.

A sobrevivência desta minoria “menos relativa” estará em causa de novo por causa dos seus planos de austeridade vertidos no próximo orçamento. Nesta intervenção parlamentar, Barnier afirmou que “gastamos demais, gastamos dinheiro que não temos e que pedimos a taxas que estão muito afastadas das dos nossos vizinhos europeus” e que prefere ser “responsável” do que “popular”, preparando o campo para as medidas orçamentais que apresentará dentro de dois dias.